domingo, 28 de dezembro de 2014

Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, dóem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade. Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Dóem essas saudades todas. Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.
— Martha Medeiros.

sábado, 27 de dezembro de 2014

"Eu encontrei outro cara. Ou melhor ele me encontrou. No meio de tantos outros que atravessaram os poucos metros quadrados do meu apartamento depois de você, ele é quem está permanecendo por mais tempo. Depois de uma busca incessante por alguém que não fosse embora apesar de todas as minhas neuroses, enfim, ele chegou. O engraçado é que ele é totalmente diferente de você. Ele me acorda todas as manhãs com uma mensagem ou uma ligação de “bom dia, já estou pensando na gente” e isso quando ele não é quem me acorda dizendo que eu estou atrasada, mas continuo linda mesmo com cara de sono. É fofo, eu sei, mas alguma coisa muito errada me faz ter um pouco de saudade do seu descaso com essas baboseiras românticas. Ele, ao contrário de você, me traz um buquê de flores sempre que pode ou tenta sempre ter uma surpresa pra mim. Algumas vezes, quando vai chegando o fim do mês, ele é capaz de abrir mão da metade do salário  pra me levar à uma pousada na praia pra me fazer ver o mar, porque sabe que isso me acalma. Você, por outro lado, nunca fez questão de me agradar de tal forma. Uma pipoca, uma coca-cola e uma barra de chocolate pra gente era tudo. Eu aposto todo o dinheiro do mundo que você nunca leu sequer a metade dos livros que ele tem na estante da sala, muito menos algum dos tantos que ele carrega embaixo do braço. O cara que diz me amar vinte-e-nove vezes ao dia já cursou três faculdades, enquanto você ainda está em duvida sobre qual profissão seguir. Ele possui planos para o futuro e você continua dando mais importância pra festa que vai ter no próximo sábado ou na melhor das hipóteses hoje se tornou um marido comportado. Eu, sinceramente, não consigo enxergar nenhum defeito em toda aquela estrutura máscula de homem, inteligente, lindo, com um sorriso de bambear as pernas, alto, forte e meu. E continuo me perguntando: por Deus, o que um cara desses está fazendo do meu lado, embaixo do meu próprio teto, na minha cama? Porque o cara mais cobiçado do bairro está sorrindo desse jeito pra mim? Qual o direito que esse par de olhos castanho-escuro têm pra olhar desse jeito pro meu corpo nada escultural? Eu juro que não sei responder. Se duvidar, ele também não. O que importa é que, de um jeito meio maluco e irracional, ele gosta de mim. Não, não, como foi que ele disse na última noite que estivemos juntos? Ama. É isso. Ele me ama. Por um longo tempo eu pensei que a única pessoa do mundo capaz de me amar verdadeiramente, com tudo de melhor e de pior que eu tenho pra oferecer, fosse você. Hoje, o cara que me carrega no colo e sussurra que vai me cuidar, é o mesmo cara que segura firme a minha mão e não me deixa ir. Essa, talvez, seja a maior qualidade que ele tenha em relação às poucas que você possui: ele, ao contrário de você, não me deixa ir. Eu juro que já bati o pé e fiz birra milhares de vezes, mas em todas elas ele me entendeu e continuou do meu lado. Confesso que muitas vezes eu quis que ele fosse, enfim, embora. Você sabe mais do que ninguém que eu nunca soube lidar com essa responsabilidade de dividir a estrada com outra pessoa. O irônico é que ele me olha como se eu fosse a mulher mais linda do mundo, feita pro homem mais lindo do mundo. E ele consegue ser, de fato, esse homem. Mas eu com certeza não sei ser essa mulher. Ele morde o lábio inferior como se não existisse qualquer outra coisa no universo que ele desejasse mais do que o meu corpo, os meus lábios e todo o resto que se pode aproveitar. Ele me abraça como se a sua felicidade se encontrasse inteiramente em mim. É engraçado porque, toda vez que ele me conta uma piada sem graça, eu sorrio e lembro que você conseguia se superar na idiotice. Sempre que ele comenta em casamento, filhos e toda aquela coisa de família feliz, eu lembro dos planos que fazíamos juntos no tapete central da sua casa minúscula. Não vou mentir: o que nós tínhamos era infinitamente maior e melhor do que ele me oferece. Ele tem carro, bom humor, atitude, elegância, boa aparência e uma reserva de amor gigantesca alojada no peito. Tem planos sérios sobre o futuro e seria incapaz de me trair ou me deixar, seja na circunstância que for. O problema é que ele possui um único e crucial defeito: ele não é você. Ele não é você e isso faz a perfeição dele me deixar triste. Anos atrás eu casaria com ele, não com você, mas hoje quando eu vejo o quanto ele me ama, eu penso em como eu queria que você me amasse assim."

- Readaptação do Texto de Capitule. 

"É que eu nunca quis gostar de você. Os meus planos sempre foram outros, ir para outros países, estudar até que minha cabeça se enchesse de informações e ser uma daquelas solteironas realizadas profissionalmente, eu nunca pedi para que você me tirasse dos trilhos e me olhasse com olhos de quem precisa de mim. Ninguém nunca fez nada por mim ninguém nunca quis me ajudar e sonhar os meus sonhos e viver a minha vida, não junto comigo. Eu nunca te pedi para ficar porque nunca quis uma resposta ou uma vida com alguém. Mas eu comecei a precisar de você e sendo assim não sei o que faria se te perdesse. É ruim quando as coisas se acomodam de um jeito bom como o aconchego do teu colo e elas resolvem ficar e de repente não podem mais sair porque, se saem você desmorona. E foi assim, você saiu, eu desmoronei. Sabe-se lá porque me deixou, talvez fosse daqueles últimos homens que entraram na minha vida, viraram do avesso e depois foram embora. Com uma única diferença, você deixou muitas coisas, coisas demais na verdade. Cansei de esconder que sou forte e bem resolvida e que tu não fazes nenhuma falta na minha vida, porque, droga, você faz. Faz uma falta absurda e isso me quebra, todos os dias. E Quando eu acordo e logo olho o espelho e não vejo seu reflexo na cama, deitado de bruços meio acordado meio dormindo, tudo aqui ainda é você. Quando eu prefiro chá ao café, é você. Quando eu paro pra fumar na varanda olhando os carros, é você. Tudo é você, e olha que eu nem queria nada disso, eu nunca quis, e acho que, por não querer é que te amei tanto. Mesmo eu gritando para os quatro cantos do mundo que você não faz porra nenhuma de diferença na minha vida, isso só convence os quatro cantos do mundo, mas nunca me convenceu e nunca vai te convencer. Só que agora quem nunca quis nada, é você. O nó na tua garganta naquele nosso último dia, ainda dói em mim."

É você...

Termos médicos sempre me assustaram muito. Bem como hospitais, injeções... Agulhas e exames. Algo do qual você sempre ria quando tinha que me levar delirando pro hospital porque eu havia resistido o dia todo dizendo que ficaria bem. Mas por ironia do destino, tive que aprender a lidar com isso tudo que me assustava e junto aprender termos difíceis que nunca me imaginei usando na vida. Sabia que o uso de uma máquina de oxigênio pode manter uma pessoa viva quando os pulmões se tornam ineficazes? Ou tratamentos paliativos aliviam a dor até mesmo de pacientes terminais? Sabia que um coração é capaz de continuar batendo por até seis minutos depois que você morre? Eu aprendi tudo isso. E só entrei no assunto porque percebi uma coisa. Quando tentavam entender o tamanho do meu amor por você, eu me enrolava toda e não sabia ao certo como dizer que amava (ainda) meu ex marido. Aí que as comparações vieram. Eu não amo você como um complemento, como algo externo, nem passível de trocas. Eu te amo como se você fosse a máquina do oxigênio, quando meus pulmões não funcionam como deveriam. Como os tratamentos paliativos pra dor ou como se você fosse meu coração batendo naqueles seis minutos que restam depois de ter ido embora. Entende? Você é o que faz aquele brilho nos olhos aparecer, faz o coração bater mesmo quando não tem porque, faz com que eu continue respirando mesmo quando os pulmões não podem fazer isso sozinhos. Você é aquele comprimido pra dor que funciona como um milagre. É o membro mais forte do meu corpo e a energia da minha alma. Desde a primeira vez, é você. E foi você. E continua sendo você quando eu acordo e agradeço, quando eu dou risada, quando me sinto bonita, quando eu consigo falar na frente de trezentas pessoas sem gaguejar, quando eu coloco um salto e caio no samba, quando enfrento os piores dias, quando abraço quem eu amo e quando olho pro céu ensolarado e me sinto viva. Tudo isso é você. É você também quando alcanço meus objetivos e vivo mais um dia, quando não me entrego e quando deito a cabeça no travesseiro e suspiro fundo. É você, foi você e continua sendo. Eu te amo não como quem ama o próximo, mas como quem ama a si mesmo. Te amo como só se ama uma pessoa e como se ama cada dia mais, mesmo não estando perto.

O hábito.

Talvez pelo hábito de te ouvir gargalhando, hoje as gargalhadas alheias sejam tão insuficientes quando tento rir também. Talvez pelo hábito do calor do seu colo no fim do dia, hoje nenhum colo e nenhuma coberta me faça sentir quente novamente. E talvez pelo hábito de te amar, hoje nenhum amor chegue perto de ser o que completa aquele pedaço que eu perdi quando você foi embora. A nossa história beirou a perfeição em inúmeros momentos e talvez pelo hábito da quase perfeição, eu não me sinta satisfeita mesmo com novas histórias perfeitas. Você sempre foi o erro mais bonito que eu podia ter cometido na vida e do qual eu simplesmente me orgulhava todas as manhãs. Sempre foi a coisa que eu me adaptei a ter como hábito dia após dia, porque mesmo quando feria, curava a alma. E não, eu infelizmente não posso e ainda não consigo não ter o hábito de pensar em você como a coisa que eu mais amei na vida. Talvez pelo hábito de te ver com os olhos de quem mesmo enxergando os defeitos conseguia amar tudo em você, eu não consiga ver mais nada além do amor imenso que você deixou quando disse que jamais se arrependeria... Porque se quer saber, eu me arrependo só de uma coisa, de não ter tido tempo pra te dizer que eu podia consertar as coisas e que eu ainda te amava, com o hábito de respirar. Me arrependo de não ter dito que você mesmo errando era a pessoa que eu amava e a qual eu ainda mo com cada milímetro meu.
Aprendi que assim como o amor pode te trazer coisas boas, ele também pode te trazer dor. O amor é uma espécie de doença, mas também é uma cura e vivemos a vida a procura de alguém que nos cure.
— Demografar.   
A tua ferida me custou um hospital inteiro ainda em construção. E ninguém sabe onde se compra este remédio que o tempo me receitou. A tal paciência, a coisa de ver o tempo passar. Ninguém sabe me dizer quanto tempo leva a se engolir a lembrança sem doer na garganta. Teu adeus me doeu todos os nossos “olás”. O teu amor me deu algumas lembranças para apagar. Ah, me deu você também, que eu quase ia esquecendo, mas sempre esbarro no “quase”. Teu amor me deu ainda tempo para viver de outros amores, tempo para desperdiçar amores, tempo para não curar o tempo que foi teu.
— Camila Costa.

sábado, 20 de dezembro de 2014

Menino dos olhos de jabuticaba 3.

Deitada na tua cama no meio de um sábado qualquer como o de hoje, até parece que amar alguém é simples. Por algumas horas cheguei a esquecer do quanto eu sofri e do quanto eu ainda guardo do passado dentro de mim. Tudo porque você com seus olhos de jabuticaba, adormeceu deitado no meu ombro enquanto falava sobre o futuro - tão incerto - de nós dois. Deu um sorriso daqueles de propaganda de pasta de dente ao falar que eu ficaria linda de vestido branco. E eu com certeza fiz uma cara de filme de terror ao ouvir aquilo. Se não fosse a sua insistência em me manter na sua vida, hoje nem teríamos tido essa conversa. E eu no fundo agradeço por você não ter desistido. Em uma vida onde todos os que passaram, desistiram, é bom pela primeira vez ter alguém que sabendo quem eu sou, como eu sou... Simplesmente me olha como se eu fosse uma pedra rara, que você jamais deixaria de lado. Você me olha e quando isso acontece eu esqueço que doía o corpo todo e aos poucos começo a aprende a sorrir também quando te vejo assim. Ainda não me adaptei com o meu espaço do armário, ou com a chave de "casa" na bolsa. Também não me acostumei a dizer: "até a noite", nem ter alguém pra ouvir os meus dias lotados, estressantes e com a agenda apertada, fazendo tudo isso com um sorriso de lado, calça de moletom e sem camisa. Quando eu te vejo com a garrada d´água na mão, olhando a vista da varanda eu me pergunto o que foi que um ser tão perfeito viu em mim. E mesmo sem entender, ultimamente tenho torcido pra que você continue vendo isso. Já não sei se ia me acostumar a passar os domingos sem as séries, o aconchego do colo tatuado e as canetinhas espalhadas na cama. Ou começar a semana sem você mordendo meu pescoço e dizendo: "a soneca já durou tempo demais, levanta morena" e da sua gargalhada ao ver a meia hora que demoro pra conseguir pensar em algo. Não sei se me acostumaria a ficar sem os abraços na volta da balada, as risadas gostosas ao me ver perdida na papelada ou a mania de colocar na minha bolsa as frutas da manhã. Não sei se eu saberia ficar sem o homem que passa minha blusa de noite por saber que eu vou me atrasar de manhã, que passa as madrugadas acordado do meu lado quando eu preciso estudar ou não estou em um bom dia. Que sempre sabe onde me encontrar, mesmo quando eu sumo. Que abre mão do jeito certinho pra conviver com a confusão ambulante que eu sou e ainda dá risada do meu jeito. Que todas as noites me dá um beijo na testa e diz: te amo mais do que amava noite passada. Mesmo sabendo que eu não vou responder. Que colocou na lista de compras do mês meu shampoo, cremes de cabelo e absorvente, sem que eu pedisse e que mantém minha vida mais organizada, sentimentalmente e praticamente falando. Que vai me buscar no trabalho quando eu perco a hora, que senta do meu lado em silêncio e parece entender tudo o que eu nunca digo. Que aceita meu passado, sabendo de tudo, aceita o fato de ter do seu lado alguém que vem sem laços familiares e que tenta me ensinar a demonstrar amor. E exatamente por isso, me ama da maneira mais plena que eu poderia pedir. Que me olha com os olhos de jabuticaba e sabe interpretar os sinais da TPM. Que entende os meus horários, sentimentos e até mesmo minha dificuldade de amar. E acima de tudo, eu acho que não conseguiria mais viver sem a coisa mais bonita que poderia ter me acontecido nos últimos dois anos, onde eu perdi a sanidade, a vontade de viver e a única coisa que eu realmente amei na vida. O homem que sabe de mim e da minha vida de cabo a rabo e mesmo assim ainda me acha a coisa mais especial que poderia ter achado. Se ele é maluco, eu não sei, mas sei que talvez, eu já não saberia viver sem a loucura dele que me mantém viva dia após dia.
“Não quero me desligar do que está me fazendo sorrir e, por vezes, querer chutar tudo pra bem longe. Não posso deixar você de lado, não posso fingir que não há nada entre a gente. Nem fingir que você não é nada. E que você não mudou, de alguma forma, meu jeito de acordar.”
Clarissa Corrêa.
A gente vira dor para não virar fim.
— Tati Bernardi. 

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

...Hoje, coleciona casos com cafajestes fajutos. Sente falta dos sermões que levava por andar descalça no chão frio. Verifica o funcionamento do telefone: tu-tu-tu. Presos pela liberdade, prosseguem cada um na sua, conectados por um fio invisível que não conduz mais eletricidade. Um fio de saudade dissonante e a certeza de que, amor como aquele deles, não acontece no tocar de uma varinha de condão.
— Gabito Nunes. 
Se já é difícil dar adeus quando não se ama, imagina quando se ama. Não é simples colocar um marcador de página numa história de amor e abandonar a leitura. Reconhecer que jamais terminaremos aquele romance. Não haverá recompensa por aquilo que se leu até ali. Ninguém nos contará o que aconteceu. Não participaremos do final feliz: os filhos, a velhice lado a lado, a casa cheia de netos. Não estaremos juntos na derradeira linha. É morrer sem ter morrido. É desaparecer estando onipresente. O livro de sua imaginação ficará fechado para sempre. A relação terminou antes do fim do amor. O leitor terminou antes da obra. Não descobriremos qual será o desfecho. Não queira viver o dia de uma despedida com a consciência de que é uma despedida. É uma cirurgia sem anestesia. Será cortado, será remexido por dentro, será costurado, sentindo cada pontada e rasgo, antecipando cada movimento com os olhos abertos. A pele vai doer como um osso, a sensibilidade pedirá piedade, o ouvido apanhará qualquer frase como uma possível sentença salvadora. Melhor que a despedida seja involuntária, desconhecida, desavisada. Melhor que seja abrupta, de repente, improvisada. Pois se despedir é sofrer com tudo que lhe tornava feliz. É abrir os braços para a mágoa como se viesse uma alegria em nossa direção. É um esforço para decorar o estranho momento em que abandonaremos uma vida tão desejada. O nós é a primeira partilha – o plural perderá seu domínio. Voltará a chamar a pessoa que ama pelo nome, como se não a conhecesse. Não mais de Meu Amor. Não mais de Minha Paixão.É entrar pelo quarto pela última vez, e ter noção de que será a última vez. É olhar pela régua que mantém a janela aberta da cozinha pela última vez, e ter noção de que será a última vez. É abrir o guarda-roupa pela última vez, reconhecer o estalo da divisória de madeira, e ter noção de que será a última vez. É fechar o registro do chuveiro pingando pela última vez, e ter noção de que será a última vez. É ajeitar as almofadas do sofá pela última vez, e ter noção de que será a última vez. É ouvir a respiração perto pela última vez, copiosa, irrefreável, e ter noção de que será a última vez. É abraçar pela última vez e não soltar porque é realmente a última vez. É beijar pela última vez e soluçar porque enfim chegou a inacreditável última vez. É uma coleção de instantes definitivos. Preciosos. Sábios. Despedir-se é guardar. Guardar é cuidar. Cuidar é nunca deixar de amar. Quem faz questão de se despedir, quem faz questão de inventar uma despedida, é quem ainda ama. Ama muito. Ama demais. Ama loucamente.
— Fabrício Carpinejar.

Menino do olho de jabuticaba 2

Eu te deixei sozinho sentado na cama madrugada passada e te disse: eu não volto dessa vez. Acho que justamente por você saber que eu falei sério sentou em frente a minha casa e não saiu enquanto eu não desci. Dispensou amigos, trabalho, outras mulheres e simplesmente sentou no meio fio.Você sabia que eu não ia estar dormindo, afinal faz umas semanas que voltei a dormir de dia e ficar elétrica a madrugada toda. Sabe disso porque passou a maior parte das madrugadas perto de mim, rindo da minha cara e procurando jeitos de me fazer ficar quieta. Você se acostumou a deixar a chave reserva na portaria e dizer pro porteiro me deixar subir na madrugada, porque sabia que eu ia chegar depois da balada, trançando as pernas e ia deitar do teu lado. Mesmo que eu não ficasse com a chave comigo, no fundo eu sabia que ela ia estar lá me esperando. Você sabia que eu ia acordar antes que você na maioria dos dias pra não lidar com o sentimentalismo, mas mesmo assim me abraçava e perguntava como tinha sido a noite. Sabia também que esse ano que passou não significou pouca coisa pra mim, mesmo que eu não falasse sobre "nós". Assim como você sabia que eu iria descer, iria te ver, porque no fundo, como não ir até a única coisa que me dá chão na vida?! Mesmo com a cara inchada de chorar, denunciando que eu não sou tão imune a sentimentos quanto pareço, eu desci. Mesmo com a sua camisa de basquete roubada e calça de moletom, afinal, quantas vezes eu vesti suas roupas e fiquei na sua casa de penetra por dias, você sabia melhor do que ninguém que isso era eu. E quando me viu assim, sorriu. Quebrando de novo, como na primeira vez, o meu jeito durona de ser. Sentei do seu lado, no meio fio mesmo, sem saber o que falar. E te ouvir dizer: eu sei que você não vai abrir a boca, então me escuta. Me fez perceber que depois de tudo, eu só não queria perder a melhor pessoa que apareceu na minha vida em dois anos. E a merda é que eu estava triste com tudo isso. Ontem de madrugada soltei um "foda-se" saindo da sua casa, mas quando dormi sozinha, sem os teus braços longos me caçando na cama, o foda-se pareceu soar mais como um choro. Conversamos por quase quatro horas, aliás, você conversou. Eu só ouvi. E percebi que por mais difícil que seja pra mim voltar a confiar em alguém, não te ter na minha vida me deixa confusa. Porque a quase dois anos você é a pessoa mais frequente na minha confusão diária, divide comida chinesa comigo sentado na sala e abre mão de comer na mesa porque eu sou toda errada e você... Como você disse a pouco... Você me ama assim. Acho que eu nunca ouvi nenhuma declaração tão bonita quanto você dizer: "já reparou que eu fico te olhando de longe as vezes? É porque eu não te entendo. E mesmo sem te entender tudo o que eu quero é continuar tentando." E mesmo não me entendendo, você resolveu ficar, me deu a chave reserva e disse: "é tua, não do porteiro". Mesmo com o meu silêncio, parecia entender que eu não ia embora assim. Levantou, me abraçou, sorriu como sempre e só disse o que eu temia ouvir: "você é meu moleque, mesmo em silêncio, eu te amo e te espero a noite em casa". E eu do jeito mais confuso de ser, só consegui dizer sorrindo: "chego antes da meia noite", enquanto deveria dizer... Eu também te amo. Mesmo não sabendo demonstrar.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Poucos minutos atrás eu estava com a cabeça longe, muito longe. Estava lembrando de momentos que as vezes me parecem tão vivos, mas na realidade estão tão distantes da minha realidade atual... e a causa dessa viagem no tempo foi basicamente um novo projeto pessoal que baseava-se em colocar em fotos, álbuns e textos toda a minha vida. Talvez um legado a se deixar ou apenas um bom material pra fazer alguém sorrir quando eu não puder estar perto. Um projeto inicialmente bacana pela ideia, mas nesse momento doloroso pela causa. Voltar no tempo trouxe sorrisos, trouxe lembranças, trouxe saudade. E a saudade em certos aspectos é algo realmente bom, pois nos relembra algo que marcou, fez sorrir... porém em outro aspecto a saudade por vezes é tudo o que sobra de algo que não deveria ter ido embora. E é esse outro aspecto que me faz retorcer o orgulho procurando não desabar sobre as fotos que retratam uma história inteira que acabou cedo demais... Pois é, novamente estou falando de você. Revi fotos nossas, relembrei dos sorrisos largos e brincadeiras bobas, banhos longos, carinhos... Assim refiz nossos passos e praticamente nos escutei novamente batendo as portas, brigando, machucando, gritando um com outro.
Fui praticamente atingida pela sobra gritante de nós dois que eu mal sabia que ainda existia e comecei a me perguntar o que seria disso tudo se não fosse a saudade. O que seria de mim se não fosse a saudade.
Saudade essa que se torna única ponte que te faz real nos meus passos conturbados. Se não fosse  ela gritando dentro do meu peito que você é real, estaria eu sentenciada a loucura. Tendendo a certos delírios ou insanidade completa.
Portanto, quem seria eu se isso passasse? Seria talvez um ser humano oco, procurando um pedaço próprio que não mais existe em teoria. Seria a junção de tanto tempo e de tanta história se desfazendo ao vento como areia seca na tempestade. Se a saudade passasse, eu não seria nada.
Quando você me fez abrir a porta para ir embora, não contava que houvesse ainda algo como a saudade para me relembrar o caminho de volta para casa. Nossa casa. Nossa vida... Nosso cotidiano maluco e tão especial. Não contava que houvesse somente esse imenso detalhe que me faria lembrar do quanto era belo te ver acordar sorrindo do meu lado e perguntando sobre o café, ou sobre o quanto era impressionante aquele cheiro único que você tem no cantinho em baixo do olho esquerdo... Ou ainda que essa mesma saudade me fizesse rir das nossas noites de pizza e vinho que acabavam sempre com você falando o que sempre tentava esconder, como se elas ainda estivessem acontecendo.
Talvez nem você e nem eu contássemos com algo como a saudade para manter vivo em algum canto a nossa existência juntos, o que te torna, ainda, apesar dos anos e dos erros que passaram pela minha vida depois de você, o único capaz de sempre me trazer de volta para casa... No nosso caso se a saudade passasse eu me perderia não só de mim, como também da melhor parte que já existiu em mim.
Cara estranha, 
Vim até aqui para que você não cometa o tremendo erro de perdê-lo. Portanto, não brigue com ele. Entre milhões de opções ele te escolheu e você ainda não faz ideia da tremenda sorte que tem.
Nesse momento você tem ao seu lado um homem que pode te deixar furiosa às vezes e que com certeza fará isso, portanto, quando acontecer e as brigas chegarem consequentemente, não o deixe se perder de você. O puxe pra mais perto, para que ele entenda que nada pode ser melhor do que vocês juntos.
Seja criativa nos presentes, um vídeo game e uma caixa de chocolate o farão pular de felicidade com os olhos brilhando, coisa que nenhum presente caro vai conseguir fazer. 
O surpreenda sem motivos ou datas específicas, ele vai dizer que não gosta de presentes, mas leva em consideração qualquer gesto de carinho como esse. Nem sempre precisa ser algo material, se você escrever uma carta ou escrever com batom no espelho do banheiro dele, já vai valer e muito.
Nunca se esqueça de dizer o quanto tem sorte por ter ele ou o quanto ele é lindo.
Diga e repita, por favor, que ele fica lindo sorrindo e que as caras de bravo não o fazem tão lindo quanto o sorriso torto ou a cara de sem vergonha que quase sempre aparecerão.
Não o pressione sobre morarem juntos, isso vai acontecer com o tempo... 
Seja sincera quanto às roupas dele, às vezes a baianice ataca sem avisar, portanto quando acontecer e ele estiver com tudo descombinando dê risada com ele da situação e mostre onde ele errou. Jamais seja rude quanto á isso.
Minta sobre a careca crescente, se ele perguntar se a coroa está aumentando, por mais que você perceba, diga que não notou diferença e se quiser rir da situação, ria sozinha. Ele é vaidoso demais. E também minta se caso ele engordar, acredite, não vai fazer diferença alguma uns quilos a mais naquela perfeição ambulante... Aliás, nem a bunda do Hulk vai ser capaz de te chamar mais atenção do que ele sem camisa - em forma ou não - na praia do seu lado.
Nunca o impeça de ir correr ou de ir para a academia, esse é o jeito dele de extravasar emoções ruins, dias difíceis e momentos complicados. Ele vai vir conversar sobre isso quando ele absorver, mas a irritação do dia a dia e problemas dele, são coisas que ele precisa desse tempo pra se resolver, sozinho. Se ele estiver irritado, o obrigue a ir malhar, ele geralmente volta com um sorriso muito mais bonito e com um abraço muito mais apertado. Vai valer a pena esperar.
Seja ciumenta sim, mas não neurótica. Se ele te ama, ele vai ser fiel. Portanto nunca duvide da palavra dele.
Entenda as escalas malucas de serviço, o mau humor pós-trabalho e respeite o espaço dele.
Não fique brava caso ele esqueça o aniversário de namoro ou com a ausência de romantismo. E muito menos com o celular dele. Essas são questões que aos poucos ele mesmo vai melhorando. 
Também não vou mentir. Com relação ao romantismo ele não costuma melhorar. Ele vai demonstrar que te ama com os cuidados e carinhos do dia a dia, não espere dele buques de flores, declarações enormes, status ou textos no Facebook e cartas imensas. Ele é diferente e por mais que te incomode isso, não deixe que seja determinante para estar ou não ao lado dele. Isso no fim não vai amenizar a dor de perdê-lo se você o deixar ir por besteiras como essas.
Não o incentive a usar bomba e se caso acontecer bata o pé, brigue, grite... Ele não precisa dessas coisas para ser perfeito e eu sei que você sabe disso. Elogie a bunda dele, nunca deixe transparecer que a bunda do Hulk é melhor que a dele, até porque é da dele que você vai sentir falta se não puder estar olhando sempre. E se caso você amar platonicamente algum ator, não deixe transparecer ou isso vai virar uma eterna tiração de sarro. 
O incentive constantemente em melhorar e voltar a estudar. Ele ama ler, ama filosofia, sociologia e conhecimento. Só precisa de um empurrãozinho. Caso ele tenha alguma ideia genial, o incentive mesmo sem concordar.
Ele ama os Simpsons, Futurama e outros desenhos do gênero. Nunca fale com ele assuntos realmente importantes quando esses estiverem passando na televisão, ele não vai te responder. E muito menos prestar atenção. É como se ele desligasse do universo nesse momento. E também quando ele estiver jogando, o deixe rir dos desenhos, xingar os jogos e se quiser realmente rir com ele, passe a assistir junto os programas que ele gosta e aprenda a jogar.
O faça ligar para a mãe dele constantemente e o obrigue se necessário a ir para casa quando possível.
Cozinhe para ele, pão de queijo, bolo de fubá... pizza caseira, feijão, arroz... bisteca. Ele ama comida caseira e bem feita, como um bom mineiro, portanto, saiba que isso também é importante. Mas nunca dispense as noites da pizza encomendada com vinho, ou um cachorro quente de banquinha.
Ah falando em vinho! Cuidado, ele é meio fraco pra bebida. E é sério. Duas taças geralmente o faziam ficar alegre demais.
O leve para dançar, vá ao cinema, vá ao parque... Visite pontos turísticos... Faça as horas livres dele serem horas boas e empolgantes. Não deixe cair na rotina. Não o deixe de sentir sufocado ao seu lado.
Pegue, por favor, no pé dele com cuidados de saúde e alimentação. Ele é meio desligado quanto á isso. Se ele ficar doente, o faça ir ao médico, ele tem mania de não tomar remédios e querer se curar sozinho.
Cuide dele, por favor.
Se ele disser que te ama, não o machuque, não o perca e não o deixe se perder de você. Você tem nas mãos a joia mais rara e preciosa do universo. Ele é sim cheio de defeitos que provavelmente vão te encher de medos e em algum momento vão te deixar doente de raiva, mas se ele te amar, você vai ter tudo pra ser a mulher mais feliz desse universo. Você vai ser única.
O ajude a tirar a farda chegando em casa depois do trabalho, o mande para o banho ou vá junto para o banho. Mais uma vez, cuide dele.
Ele tende a se afastar de tudo o que o prenda, então leve as coisas com calma e tenha sempre em mente que do seu lado existe alguém que vai te matar de saudade caso vá embora e que se um dia você se ver sem ele, vai ser como se um pedaço seu não estivesse mais com você.
Só te peço que o ame da maneira mais imensa que conseguir, que se entregue a todos os momentos e que nunca deixe ele ser menos do que ele é. Entenda, esse é o homem da sua vida, então se esforce para ser a mulher da vida dele. Ou o resto vai ser sempre incompleto.
Tire fotos de todos os momentos de vocês, grave vídeos dele falando por mais que seja uma besteira qualquer. Guarde lembranças como essas com você
O faça feliz. O leve para a praia. Dê risada, passe o dia na cama com ele. Divida as contas, seja alegre. Anime a vida dele e seja leve. Torne a vida dele melhor, não pior.
Se caso o telefone viver cheio de mensagens de ex-namoradas, não se importe. Enquanto você se esforçar e não se perder, ele nunca vai considerar trair você com nenhuma delas. E eu sou inclusa nesse passado.
Fiz-me presente nos últimos meses por problemas pessoais meus, mas te peço desculpa, afinal eu sei o que é amar ele. 
E pra terminar, só desejo que você faça por ele o que eu nunca consegui e que juntos vocês se façam felizes de uma maneira única e especial.
Não tenha medo de perdê-lo enquanto você fizer o possível para isso não acontecer, mas tenha medo dele se perder de você e nunca mais encontrar o caminho pra casa.
Cuide dele com a sua vida e faça dele a coisa mais importante, porque como eu disse... Essa é a joia mais preciosa que você poderia imaginar ter um dia. E como tal é complemente insubstituível.
Ele é lindo e é especial. É um homem único e te escolheu. Não o deixe esquecer-se de como o sorriso dele é perfeito. E se caso você se irritar com os roncos durante a madrugada, procure dormir com um fone de ouvido por perto. E ah, ele se descobre e descobre você durante a noite, procure dormir com um cobertor reserva. Procure adormecer no colo dele, garanto que esse vai ser o melhor jeito de dormir. E acorde sorrindo pra ele. A imagem de ele acordar sorrindo é algo indescritível. Mas nunca fique olhando ele dormir, ele se incomoda bastante com isso. O faça sorrir.
Você tem alguém pelo qual lutar sempre. Não troque isso por nada e você vai ser com certeza a mulher mais feliz do mundo.

                                                                                                               Por fim, obrigada por fazê-lo voltar a sorrir... 
Eu poderia começar dizendo que isso tudo não passa de um drama meu e que logo mais vou voltar a vida de baladas, provavelmente te esquecer e voltar a acordar do lado de pessoas que eu não vou fazer ideia nem do nome quando sair do estado bêbada. Poderia dizer também que isso tudo é indiferente ou que pra mim tanto faz. Mas se eu fizesse isso eu estaria mentindo e quem nessa vida acreditaria? Até o mais sórdido ser humano ao me encontrar na rua sabe que alguma coisa está errada, eu estou andando pelas ruas sem um pedaço meu, às vezes sem mim mesma. Entende o absurdo? Antes de você eu era a autossuficiência em pessoa. Sem muito mal tempo, sem tristezas insistentes e minha filosofia se baseava no fato de que duas doses de whiskey resolveriam qualquer problema – qualquer mesmo – desse mundo. Mas aí chega você. Me arrancando da minha casca protetora, me deixando exposta ao mundo, me enfraquecendo e me colocando como a criatura mais vulnerável do universo. Você chegou nessa confusão ambulante que eu sou como um explosivo de alta destruição esmigalhando cada barreira protetora e se instalando dentro de mim como um pedaço da minha alma. Só Deus sabe o quanto eu fugi disso. Depois de você chegar eu virei uma máquina, sorrindo pelos seus sorrisos, olhando pelos seus olhos, sentindo por nós dois. Uma máquina que tinha que aprender a amar e que quis fugir de mala nas costas ao ouvir seu primeiro “eu te amo” tão desengonçado e tão magnífico. Que se desesperou ao notar que também te amava e quase enlouqueceu quando percebeu que era tarde demais pra ir embora. Depois desse estágio eu me perdi. Aquela mulher a mil por hora, forte e capaz de enfrentar leões, sumiu. Talvez pra mostrar esse meu lado que nem eu conhecia, mas admito, sinto falta daquela força e daquela alegria. Aos poucos a força em pessoa aqui achou que estava tudo bem, que finalmente havia um no mundo que ia segurar o meu peso do meu lado, que teria proteção e colo nos dias difíceis, se deixou levar pela ideia quase ilusória de ter alguém pra toda vida. O que mais chamou atenção em você era justamente a simplicidade. Se eu precisasse de um colo, você estaria ali. Se eu estivesse na tpm, você continuaria ali – talvez uns metros mais distante – mas ali. Se eu enlouquecesse de ciúmes e experimentasse segundos de insegurança você voltava pra acalmar. E se as brigas tomassem conta por eu não saber o que fazer com um sentimento tão grande, você me ensinava. É isso. Você ensinou meu coração a falar e minha mente a confiar. Nunca imaginei entregar meu mundo, meus problemas mais pesados e esse meu lado carente, desprotegido, gritando por amor e um tanto quanto criança á alguém. Mas entreguei justo a você. Me pergunto como uma mulher que já levou tanta pancada da vida caiu nessa armadilha. Amor uns dizem. Burrice outros afirmam. E eu? Eu juro que não sei. Só sei que quando percebi estava lá, amando ser esposa, amiga e parceira de alguém. Estava adorando rotinas de casal, saídas a dois, etc. Até de preparar suas refeições, cuidar dos seus horários e incorporar a fundo essa “esposa perfeita” me agradava. E aí estava o erro. Eu estava indo cada vez mais fundo, confiando cada dia mais, amando cada segundo uma eternidade a mais... que fiquei cega. Parei de ver o mundo e perdi a minha essência. O mundo que eu conhecia ali era você. De ponta a ponta. Só você. Eram os seus interesses, os seus sonhos, a sua felicidade e o seu bem estar. A ponto de eu esquecer que eu também precisava de cuidados e amor. Foi quando tudo ruiu. Você olhou pra mim e não viu nem sentiu mais nada. Passou a me tratar com completa indiferença, sumindo e escapando de mim sem controle, sem que eu pudesse lutar. Era como gritar no meio do deserto. O desespero me tomou por inteira. Te perder? Como assim? Eu não consigo. E os meses passaram. Chegamos ao extremo, aonde respeito e paciência sumiram. Você procurou outras mulheres. Ignorou meu aniversário. Os “eu te amo” antes frequentes sumiram e o pior, você já não me achava linda. E eu passei a ser o que? Bom, por mais que doa, passei a ser mais uma qualquer. Uma mulher estranha, sem vida e amargurada. Era isso que você via. E de tanto chorar noite após noite, eu fui embora. Mudei de casa e te deixei sozinho. Era o que você tanto queria. Só teve um problema. Mudar de casa, de estado ou país não mudou o que eu sinto. Sim, sinto no presente. Você continuou instalado aqui dentro. E eu continuei gritando. E então você com toda frieza possível me destruiu com quatro palavras: “não te quero mais”. Juro que posso te ouvir falando ainda. Você não me querer mais, não me desejar mais foi exatamente como se tirassem o chão a baixo dos meus pés. Um mês depois eu continuava ali paralisada, tentando entender. E o mundo lá fora não me chamou atenção. Depressão meu psicólogo falou. E tudo o que eu continuava pensando era: porque isso aconteceu? Não vou mentir, não acho justo arrancar as proteções de uma mulher que levou anos pra se proteger de tudo, fazer com que ela te ame acima dela mesma, jurar a vida e o amor e depois simplesmente sair. Ir embora como se nada tivesse acontecido. Sua vida segue. E a minha? Eu estou deitada no chão ainda. E eu sei que eu tenho que levantar, eu preciso levantar. Mas eu não quero. Enfrentar um mundo onde você não é mais nada pra mim, ou melhor, onde eu não sou mais nada pra você é ilógico. Você me fez promessas sem ter a intenção de cumpri-las, eu te fiz promessas e as cumpri. Sente a diferença? Eu jurei te amar na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, na alegria e na tristeza, até que a morte nos separasse. E vou te confessar uma coisa, eu pareço morta por fora, mas aqui dentro tem uma guerra acontecendo. Porque eu sei que essa morte da promessa pra você já chegou, mas pra mim só vai chegar quando eu der aquele último suspiro e independente de que rumo essa minha vida maluca siga, simplesmente, sempre vai ser você.
Nessas ultimas noites a insônia tem me dominado juntamente com a saudade do seu cheiro. E é exatamente quando o cansaço praticamente me consome que milhões de lembranças invadem a minha mente já danificada. Eu leio algo como: um odiava o outro as vezes, mas sempre acabavam abraçados jurando nunca mais brigar. E lembro de todas as vezes que eu prometi e até jurei que ia embora, mas não arriscava um passo antes de você voltar pra casa. E anexada a isso vem a quase felicidade de lembrar do quanto nós éramos bestas e felizes. Brigávamos muito. Verdade. Mas cada reconciliação fazia amar mais um ao outro. Talvez por isso eu tenha achado que você, pelo menos você, não iria embora. O tempo passa e ainda mais cansada procuro imagens que eu possa postar e adivinhe o que está lá no meio das milhares de imagens que eu tenho nesse computador? As nossas fotos. Nesse momento um filme passa, eu lembro de cada situação em as fotos foram tiradas, do que eu estava sentindo e do que falávamos. Nossa primeira foto foi alegre, estávamos saindo pra almoçar no seu chinês favorito. Meu Deus como eu amava você. Não que não ame ainda, mas como era bom amar daquele jeito. Não era esse amor que me entristece, era bom, era leve e me salvava de tudo. E eu olho cada uma delas e até na última, quando já estávamos mais quebrados que taça de cristal derrubada em ano novo, eu vi no meu olho apesar de cansado o quanto eu ainda amava você e vi em você mesmo que bem menor o mesmo amor da primeira foto. Aí esta o motivo de eu amar fotos. Elas ficam e eternizam momentos que certas vezes um dos integrantes esquece. Juntando tudo isso, cada dia mais eu sei que estou cansada, ao ponto de exaustão. Estou triste de maneira estranha. E mesmo que quase sempre eu só queira dormir por uns anos e esquecer tudo isso, nos momentos que sobram eu ainda desejo encontrar o homem pelo qual eu me apaixonei tanto perdido nesse novo você.
Eu mesma já cai na dúvida sobre o tempo ser remédio ou ser mais um dilacerador dos machucados abertos. Me questionei e admito que odiei isso de "o tempo cura tudo". Meu único e maior desejo perante aos últimos ferimentos era bem simples, que o tempo passasse sem que eu percebesse. Porque havia uma ferida latejando dentro de mim, mais parecia um ferimento com vida própria, que me esmagava e me destruía dia após dia, noite após noite depois que você saiu da minha vida. Ninguém fora eu mesma pode entender o tamanho disso, mas ninguém fora eu mesma pode me levantar do chão. Então por mais que o tempo ainda não tenha passado e isso aqui dentro continue ardendo, aos poucos eu estou me erguendo. Gradativamente, sim. Mas estou começando. Ainda não sai do chão gelado, nem parei de gritar. Mas encontrei aqui dentro uma vontade e uma necessidade de voltar a sorrir. Mesmo sabendo que esse não é um dano temporário, sabendo que isso vai me machucar daqui 30 anos e entendendo o tamanho do buraco com que eu vou passar a conviver, eu estou tentando mais do que nunca levantar. É uma guerra travada. Eu sei que vou ter recaídas, que vou querer me tacar no chão de novo e não me erguer. Sei que vou chorar, vou sentir isso me consumir por muito tempo ainda, mas, também sei, que apesar do tempo não ser remédio... somente ele vai me ajudar e me ensinar a andar novamente sem esse pedaço, sem o que eu chamava de sanidade.

Depois de um ano...

E hoje faz um ano, um ciclo completo de dias que eu simplesmente não consigo mais lidar com isso. Ao te conhecer eu sabia que algo daria muito errado e no fim desse ano eu percebo que não era o te conhecer e sim o te perder que faria tudo ruir. Eu te perdi. Isso todos sabem e eu sei porque isso aqui dentro não para de esmagar cada respiração minha. É como se mesmo depois de tanto tempo eu simplesmente não funcionasse mais. Dói respirar, dói andar, dói falar. E eu não quero falar sobre a gente, nem ao menos sobre a dor. Falar é proibido, piora tudo. Mas não falar também machuca. Não falar me deixa agoniada, é como se eu estivesse imersa em uma piscina com os pés amarrados ao fundo. É como desejar que chova no meio do deserto ou gritar no meio de uma floresta. Agora falar piora e não falar mata. Essa grande incoerência dentro de mim tem feito os dias passarem devagar e a dor crescer a cada segundo. E mesmo depois de 365 dias, de doer mais do que eu suporto, a unica coisa que eu queria era acordar amanhã e te ver. Saber que esse pesadelo passou. Saber que eu posso respirar de novo ou parar de gritar por socorro quando não há ninguém.

- Escrito em 18.12.2013
O homem "perfeito" não é parecido com príncipes encantados, muito menos com galãs de novela. Ele tem seus dias de porquinho quando pula o banho, vira um ogro quando sente ciúme e enfrenta dias ruins que o deixam de extremo mau humor. Passa por períodos de instabilidade emocional assim como nós. Se sente inseguro ao sentir que pode perder quem ama e ama mesmo que não demonstre sempre. Se irrita com a nossa demora pra achar a roupa da noite, mas sorri feito um bobo quando nos vê prontas. Esse homem "perfeito" deita do seu lado e te aconchega no colo pra te fazer dormir segura, mesmo que isso faça o braço dele adormecer e doer o dia seguinte inteiro. Ele se preocupa com a sua vida, seus horários e com a sua segurança. Mesmo que nem sempre ele te diga isso. Ele se torna seu melhor amigo, o único que você sabe no fundo que não vai precisar dizer adeus. É sincero quando odeia uma roupa sua, por mais que você a ame. Também permanece sendo sincero quando diz que você engordou ou fez besteira. Não que isso faça ele te amar menos, mas justamente por ele te amar de um jeito imenso, ele fala. Esse tal "perfeito" vai te xingar de todos os nomes feios quando você arriscar sua segurança, ou quando ligar pra ele no meio da madrugada bêbada demais pra saber chegar em casa. Vai ficar resmungando quando você pensar no seu ex namorado e com certeza vai ficar roxo de raiva se isso te machucar de alguma forma. E acredite, mesmo sendo perfeito, ele não vai te mimar, falar com você a todo segundo e muito menos ficar dizendo que te ama a cada minuto. Aceite. O homem em questão vai deixar de te ligar as vezes, vai esquecer de te responder uma mensagem ou outra. E em segredo as vezes vai preferir o video game a você. Porém, esse mesmo homem que te trocou por alguns instantes por um brinquedo, vai ser o mesmo que tarde da noite vai te acompanhar em um hospital se você precisar, vai lutar com garras e dentes pra te ver sorrir e por mais que o eu te amo não saia com frequência, esse homem vai te falar isso no meio de uma discussão idiota ou no meio de um programa rotineiro qualquer. Vai te mandar uma mensagem te xingando e dizendo: estou com saudades. Vai trocar os horários as vezes pra te ver, mas não vai vir acompanhado de rosas vermelhas e sim de um enorme abraço e um imenso sorriso. As rosas também virão, mesmo que raras vezes. Ele vai esquecer o aniversário de vocês e nada surpreendente se esquecer o seu também, mas apesar disso, vai te fazer sentir a mulher mais linda do universo mesmo de camisa e calcinha. Ele vai colocar um calção velho e te ajudar a pintar o apartamento inteiro, mas vai reclamar de comer pizza de novo no fim da noite. Vai ser o pior de todos nas discussões, mas a diferença está no momento em que ele voltar pra te dizer que aquilo não foi nada, pois você é tudo. Ele vai te trazer chocolate em meio a tpm e brincar com você nessas horas, mesmo correndo risco de vida. Porque no fundo, apesar dos erros que ele com certeza vai cometer, ele só quer te ver sorrir. E pode acreditar, ele vai ser o "perfeito" quando as suas lágrimas mesmo que causadas por ele, façam ele pensar no quanto ele odeia te ver daquela maneira. Mas acima disso tudo, o homem "perfeito" não vai te deixar ir embora, nem te trocar. Ele vai estar ao seu lado a vida toda, traçando seus passos ao lado dele, cuidando e amando você de uma forma em que toda vez que você olhar pra ele você consiga enxergar não um homem, nem uma pessoa qualquer, mas o seu porto seguro. O seu pedaço de segurança no meio de um mundo inteiro. E nesse momento, você vai saber sem precisar de um eu te amo, que aquele amor é o único que você precisa realmente ter pra ser feliz "pra sempre".

De história em história.

"Você não sabe e eu talvez nunca entenda o tal motivo maior e indefinido que te tirou da minha vida, aquele que você disse existir quando se sentiu sufocado por eu te amar demais. Você é assim, cheio de ilusões e mandamentos filosóficos que nem a mais maluca criatura seria capaz de entender. Cheio de verdades - só suas - e de vontades momentâneas,dessas que chegam e vão embora como um suspiro dado na frente do mar. Cheio de achar que é o dono do mundo e de todas as mulheres do planeta. Cafajeste até o último fiozinho de cabelo existente no corpo. E é o ser mais indefinido, confuso e estranho que eu conheço. Talvez por isso eu tenha te amado de uma forma surreal. O que me intriga é por um momento eu ter enxergado em baixo dessa armadura bem montada de "homem super poderoso" um menino inseguro, que enxerga os seus milhares de defeitos - pra mim sempre perfeitos - ter visto aquele que não sabe lidar com o que sente e foge de qualquer manifestação de amor que existe. Me intriga achar que você no fim é dois em um. Pro mundo o tal cafajeste pegador super seguro de si e pra mim o homem mais delicado e amável que poderia existir. Dois em um. O que eu amei e o que eu odeio. O que me fez feliz e o que me machucou a ponto de me perder. O que eu sempre vou levar comigo e o que eu quero mais longe que as sete pragas da bíblia. Você sendo dois homens, eu sendo eu mesma. Que história no estilo novela mexicana é essa? Eu respondo: o amor mais "dois em um" que eu já tive na vida. E bem no fundo, o único amor que eu não queria ter perdido nem nessa e nem em qualquer história."
Quando a noite demora passar, se recorda do que no fundo ainda não foi esquecido, se questiona sobre a imensidão de algo que deveria ser finito e não se entende como algo sobrevive em meio ao que já morreu. Não se encontra explicação para aquilo que se fazer presente quando tudo não passa de um passado distante. Nem se compreende como este é capaz de fortalecer por si o que outro destrói todos os dias, se tornando forte como o sangue bombeado do coração para o resto do corpo e enfraquecendo como paciente terminal. Acha-se também uma saudade irracional do dito cujo e o desespero pela presença tão sentida de algo já desaparecido. Faz-se enlouquecer a falta ressentida de algo tão amado. Mais que isso faz-se adoecer pelo membro fantasma já não presente que ainda dói mesmo após a partida final. E resta-se ao final da batalha a lembrança ardida da ferida aberta que grita o nome e o sobrenome de um amor impossível, mas necessário pra restaurar o que já está queimado.

Talvez.

Talvez devêssemos, por um minuto, desligar-nos do mundo e começarmos a vivê-lo um pouco mais, sem apego a redes sociais ou status. Talvez devêssemos, por um minuto, largar todo esse rotulo existente e nos permitir sentir tudo com um pouco mais de intensidade, mesmo que isso nos rotule no final como meros malucos. Talvez devêssemos, por um minuto largar todos os planos de lado e começar a realiza-los um por um, como se houvesse uma lista de afazeres do dia a dia. Talvez devêssemos, por um minuto, desligar-nos do mundo e amar, sem ligar para retribuições, simplesmente amar sem esperar receber de volta aquilo que se deu. Amar as poucas palavras e os grandes gestos. Amar o silêncio, o beijo e amar muito mais o abraço apertado dado espontaneamente. Amar o sorriso largo, o olhar intenso, o toque que arrepia. Amar os corpos se tornando um só, ao invés de amar só o sexo. Quem disse que amando não se pode ter um-sexo-selvagem? Amar os domingos de chuva e amar mais ainda permanecer na cama enquanto ela te faz um cafuné. Amar as quartas-feiras, porque mesmo que te faça rir, ela está ali no sofá da sala com as suas roupas de moletom assistindo futebol. Talvez devêssemos, por um minuto, esquecer as bebidas, baladas, o sexo fútil, os cigarros e o dinheiro ou contas. Talvez devêssemos, por um minuto, lembrar-nos das poesias esquecidas, cartas escritas, das palavras doces que recebemos e não damos atenção, do abraço dado que te proporciona sorrisos somente pela doce lembrança e do mendigo na rua. Talvez devêssemos, por um minuto, esquecer o orgulho, os ciúmes, as intrigas, as brigas e perdoar, confiar e ter mais fé. Talvez devêssemos, por um minuto, esquecer as tristezas, as marcas, as mortes do passado e viver. Viver só um pouco. Só um pouquinho. Talvez devêssemos, por um minuto, esquecer os rótulos, ser livre e se sentir livre de tal maneira que se deite a cabeça no travesseiro e não se sinta a vontade de estar em outro lugar qualquer que não ali naquela cama, com quem quer que seja ou sozinho. Talvez devêssemos, por um minuto, esquecer a historia e só nos importar com a gramatica. Talvez devêssemos, por um minuto, esquecer as palavras e amar os números. Talvez devêssemos, por um minuto, esquecer a Escola e irmos pra praia, nadar, sorrir, mergulhar. Ah! Mergulhar no infinito… Talvez devêssemos, por um minuto, esquecer as brincadeiras, os sorrisos, os amigos e afundar nos livros. Nas palavras. Na vida. Talvez devêssemos, por um minuto, esquecer os políticos, as putas e os ladrões e roubar o coração de uma mocinha e fazê-la, por um minuto, ser mulher. Talvez devêssemos, por um minuto, fazer um garoto ser homem pra sempre. Talvez devêssemos, por um minuto, tornar o pra sempre realizado, a fé inigualável e o amor inquebrável. Talvez devêssemos, por um minuto, deixar as razões de lado e seguir o nosso coração e as orientações sem nexo dele. Talvez devêssemos, por um minuto, parar e ariscar outro caminho, mesmo com medo do incerto. Talvez devêssemos, por um minuto, confiar mais em nós mesmos e amarmos um pouco mais, com a imensidão do eterno nos segundos de vida. Talvez devêssemos, por um minuto, esquecer que o mundo é miserável e vive-lo como se fosse único. Sorrir na rua pra desconhecidos, esquecendo quem aquele pode ser. Talvez devêssemos, por um minuto, deixar de sermos rótulos e sermos nós mesmos, sem tirar uma vírgula das nossas loucuras internas. Talvez devêssemos, por um minuto, esquecer a ignorância e sarcasmo para utilizarmos aquele velho trecho clichê da poesia lida há anos atrás. Talvez devêssemos, por um minuto, vivermos das palavras e do amor, o amor que tanto nos faz falta e tanto falta no mundo. Talvez devêssemos, por um minuto, esquecer os “talvez” da vida e fazer acontecer do nosso jeito, sem preocupações. Talvez devêssemos… 
Você vai ser sempre a saudade mais dolorida, o sorriso que mais me faz falta, a mensagem escrita e não enviada, o abraço procurado, o meu motivo de insônia... vai ser sempre a presença desejada, a sensação de calmaria necessitada, o apreço da saudade de casa e o pedaço que falta da minha alma. Mas mesmo assim me vi obrigada a mudar a minha postura perante a sua ausência, que por acaso vinha me enlouquecendo nos últimos meses. Digo que mudei porque antes eu tentava achar uma maneira desesperada de te trazer de volta ou de te fazer entender que eu necessitava da sua presença pra estar inteira e hoje eu percebo que por mais falta que você me faça, mesmo não sendo pouca... já não é algo que precise doer dessa maneira que chega a entorpecer os sentidos. Você vai estar sempre aqui dentro, sem que eu me esforce. Eu só parei de lutar contra. Dia após dia eu aprendi a anestesiar a dor que isso me causa pra aprender a sorrir de novo. Quem sabe amar de novo. Porque não? Nós não pertencemos um ao outro. Na verdade, você não pertence a mim, mesmo que eu sonhe noites e noites com você. Nós fomos o "quase" que mais me incomoda, fomos e sempre vamos ser o meu referencial de amor verdadeiro, mas como eu disse, você é e sempre vai ser a ferida aberta que continua sangrando e latejando, nunca vai deixar de ser um enorme pedaço de mim. Mesmo que as lembranças antes vivas como a realidade estejam desaparecendo e eu aos poucos anestesiando você pra voltar a sorrir, eu repito com toda a convicção... você é e sempre vai ser essa ferida dolorida, incurável e eternamente aberta pela saudade que não dá trégua no meu dia a dia... isso talvez signifique que apesar de todos os pesares, no fundo eu sei, que te amo e sempre vou te amar.
Duas da manhã. Levanto da cama depois de muito me mexer em vão atrás do sono. Vou até a cozinha e preparo aquele chá de camomila que eu sei que não tem efeito algum sobre mim nas noites de insônia, mas pra não dizer que não tentei, faço mesmo assim. Espero o processo de ferver a água com a planta e aquele cheirinho de camomila até que me acalma um pouco, não o suficiente pra cessar a inquietude mental. Enquanto o chá vai tomando forma, vou até a varanda, acendo aquele cigarro que você sempre odiou... "Que se dane", penso no final das contas e quando dou por mim fumei mais do que devia. Olho pro céu escuro e respiro o ar fresco da noite, penso e repenso sobre tudo o que foi e sobre tudo o que vai ser. Sinto sua falta. Me entristeço um pouco, retorno ao quentinho do apartamento, tomo o maldito chá. E acabo rindo de mim mesma por parecer uma velha rabugenta. Respiro fundo novamente tentando entender onde foi que minha vida se tornou trabalho e nada mais. Em que momento o que eu sentia por você ruiu a ponto de ser deixado de lado... E me pergunto baixinho...Como será que está você, se está bem e se está feliz. Prefiro por um momento me contentar com a imagem cansada no espelho sozinha, do que com as lágrimas incessantes das ligações ignoradas por você e desisto de querer saber sobre a sua atual vida. Deito na cama, olho o relógio... Quatro e meia. Daqui meia hora o dia começa de novo e eu no final de tudo, permaneço aqui, lutando pra tirar uma coisa que parece ter sido marcada com ferro na alma. Fecho os olhos e por uma fração de segundos escuto sua voz sorrindo... Agora sei que não vou dormir, mas rezo de novo pra que isso não volte a acontecer. Parece que o amor que havia em dois se transportou só pra mim, transbordando o sufoco de já não poder existir.
Existe uma regra no mundo que diz que tudo o que tem um começo tem um final. Regra essa que é aplicada á todos os aspectos da vida de um ser humano normal. Porém existe um único problema: toda regra tem uma exceção. E no caso desta regra a exceção esbarra em nós dois para variar, mais exatamente em mim. Eu e você conseguimos ainda ser a exceção de tudo, quando se trata de finais definitivos e a culpa provavelmente seja minha. Desde o lado bom, até principalmente o lado incômodo de ser. Ambos sabem que o certo é ir embora, cada um para um lado, lutando pelo esquecimento e desapego definitivo. Sabemos disso, mas não somos fortes o suficiente para ir sem nunca mais olhar para trás. Eu pelo menos não sou, você com certeza é. Sempre que me pego indo para longe demais, viro para trás e o desejo de voltar para casa é maior do que o de te enterrar na história. O que você fez com facilidade. 
Eu sou covarde, pelo menos na questão de conseguir ir embora quando eu preciso. Covarde por nem querer saber o que me espera ali na frente quando eu olho para trás e vejo você sorrindo. 
Quando você sorri é como se de longe ativasse um alarme de emergência avisando: volte para casa. Não se afaste demais. E eu volto. Volto como se aquela regra não existisse e somente houvesse uma regra: não te deixar nem hoje, nem amanhã e nem em outra vida. 
A resposta para esse problema talvez esteja na simples justificativa de que eu não sou nada sem você, ou pelo menos sou, mas não completa, não viva. E você de um jeito estranho também não é você mesmo sem mim, ou pelo menos é nisso que quero acreditar. O fato de formarmos algo juntos que nos livra dos pesos, é o mesmo fato que faz com que separados essa mesma coisa se torne uma âncora pesada nos impedindo de ir á qualquer lugar. 
Separados nem fortes somos, você é o meu ponto fraco e eu ainda sou o seu, nada funciona de forma adequada e nada se ajeita com completa exatidão. 
Não é algo que possamos explicar e muito menos compreender. 
A regra que diz que tudo termina só esqueceu de considerar que separados somos só eu e você, tentando ser o que nunca conseguimos afastados e tudo o que dizemos não querer juntos. 
Te visualizei arrumando a mala e saindo pela porta nas pontas dos pés, só pra dizer que não causou barulho na minha vida. Você estava partindo e fim. Me queria bem, coberta, devidamente medicada, corada, comendo legumes e praticando exercícios. Só não me queria com você. Assim, simples, como um pequeno inseto que entra e sai pelo vão da porta de casa, você quis sair da minha vida. Acontece que o seu tamanho em mim não permitia. Você trouxe uma avalanche e uma manada de elefantes para dentro da minha sala, quebrou meus copos, dançou no assoalho, tirou meus quadros do lugar e tropeçou nos meus tapetes. Não dava para sair em passos de formiga, como se eu não tivesse visto. Não dava pra fingir que o seu rastro não ficou marcado no meu chão. Ainda existia aquele caderno com a sua letra, aquele vestido que você deu, aquelas fotos na tela do meu computador. Tudo bem, a gente apaga, coloca os ursinhos para a doação, rasga as cartas, esconde tudo debaixo do tapete. Mas como é que eu esqueço o que ficou em mim? Como eu faço para tirar essas cicatrizes, curar essas feridas, juntar meus ossos de novo? Porque ninguém que entra e bagunça a nossa sala sai sem deixar vestígios. Que dirá de quem bagunça a nossa vida. E você não se virou, não perguntou se eu precisava de um curativo. Só pediu desculpas como quem quebra um copo e só lamenta por não poder consertar. E eu quis gritar para você voltar nem que fosse para recolher meus cacos, nem que não pudesse me reconstruir. Eu quis gritar porque nem minha cama você arrumou, nem para esconder o vazio que ficou debaixo do lençol com seu cheiro. Mas eu calei, guardei em mim. Talvez você nunca fique sabendo que o tamanho do meu colchão multiplicou por mil e meu coração diminuiu na mesma proporção. Talvez você nem seja bom de matemática, porque estava na cara que não soube calcular os danos. Deixou silenciosa a casa que por muito tempo foi palco das melhores festas da vizinhança. Largou o meu público em silêncio bem no meio de um refrão. E eu me perguntei se você havia esquecido o resto da letra que a gente compôs ou se simplesmente havia enjoado da nossa canção. Você saiu inteiro, com os pés descalços e sem carregar nada nos ombros. Mas eu sabia que, naquele momento, você levava muito além do que tinha nas mãos. Você levava uma parte de mim embora, como um inseto, que entra na nossa cozinha e leva, sem ninguém se dar conta, um grão de açúcar. Acontece que não se leva metade de alguém sem fazer barulho, sem causar escândalo, sem deixar para trás um buraco maior que qualquer buraquinho de cupim. Eu quis cuidar de você, subir no palco e cantar junto aquilo que podia ser a melodia mais bonita da nossa vida. Mas você virou as costas, assim, como quem entra e logo sai de uma loja. Sem nem me dar a chance de perguntar se podia ajudar. Talvez eu pudesse.
— rio-doce

A lembrança renovada.

Todos os dias digo pra mim mesma que nada existiu. Faço uma varredura completa de lembranças e as taco no lixo antes de levantar da cama pra mais 24 horas de vida social. Quase sempre com um sorriso no rosto e uma vontade imensurável de viver. Dou risada, distribuo abraços, gargalhadas, amor e muito blá blá blá. Grito pra Deus e o mundo quando perguntam que nem lembro quem você é ou o que fomos... E o dia vai bem. Venço ele com facilidade, independente do que aconteça, porque afinal de contas, eu estou bem. Mas, aí vem a noite, junto com ela o silêncio e aos poucos aquelas lembranças que eu achei ter jogado fora reaparecem como um soco no estômago. Volto a lembrar da maldita noite em que você chegou prometendo me ensinar a gostar de alguém de verdade, do medo de amar você porque no fundo eu sabia que doeria mais do que qualquer coisa. Volto a lembrar do seu sorriso bobo, das gargalhadas, brincadeiras, do seu primeiro "eu amo você" encharcado de vinho, do meu batom no seu espelho, das minhas coisas ficando cada dia mais na sua casa, até a casa virar "lar", das decisões equivocadas que tomei, das brigas... Lembro do dia em que implorei pra que você não me deixasse, do quanto te senti indo cada mais pra longe, da sensação de perder a coisa eu mais amei e sem ter o controle disso. Lembro do quanto eu sofri quando tive que ir embora e das brigas sequentes... Assim como lembro de você dizendo que jamais se arrependeria de me deixar ir. E no meio da tristeza por lembrar daquele último abraço, vez ou outra, uma lembrança boa como as tentativas desengonçadas de romantismo, ou as voltas e reconciliações, aparecem pra lembrar que o amor nunca acabou. Não o meu. Por mais canalha e insensível que você tenha sido, quando eu fecho os olhos e me concentro eu só lembro do cheiro da sua pele, do seu tom de voz, da gargalhada e do quanto eu queria que chegasse o fim do dia pra te ter em casa de novo. Do calor do seu corpo e do aconchego do seu colo. Lembro da praia, das risadas e do quanto eu realmente amo você. E pra falar a verdade é torturante te amar. Eu quero e posso ter um milhão de caras ao meu redor, posso conhecer pessoas incríveis, canalhas tão bonitos quanto você e homens pra casar... Mas não encontro uma coisa: você. O que faz automaticamente o resto do universo parecer somente o resto. Tentei colocar na cabeça que você está amando alguém e consegui me afastar, mas não consegui esquecer. Porque a saudade vem todos os dias me lembrar em algum momento como seria bom te contar as novidades e as lembranças do fim do dia voltam como um filme que estragou no replay e que dói toda noite sem trégua me fazendo não saber se é possível continuar doendo...
E de longe escuto o despertador, mais uma noite mal dormida, mais uma noite lembrando do que eu nunca esqueço... E mais um dia começando, afinal, quem é você mesmo?

Não existe mais.

"...Na verdade, não sinto saudade de você. Sinto saudade da gente. De como era e de como me fazia sentir. Minha saudade é quase que uma lembrança. Lembrança de um você que eu sei que não existe mais."
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