quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Menino dos olhos de jabuticaba 5.

Foram dias longos enquanto estive perdida na minha confusão e recusei seus telefonemas. Recusei suas aparições e tentativas de comunicação. Encontrei outras bocas no caminho, bocas com sorrisos estampados, abertos e alguns com aquele ar de malícia que você não suporta ver em outros homens. Acabei me perdendo no caminho e esqueci como voltar pra casa. Talvez por vergonha de voltar depois de ir sabendo o quanto você queria que eu ficasse, eu esqueci de voltar. Propositalmente. Mas hoje me peguei novamente parada na sua porta. Olhando a cara do mesmo porteiro de sempre que sorriu ao me rever. Perguntei de você. Você não estava. E eu suspirei fundo. Me questionei sobre o que havia feito e sobre o quanto podia ter ferido o único que continua me vendo como uma mulher linda. Por isso, mesmo temendo as consequências esperei. Uma. Duas. Três... Cinco horas. Até ver seu carro entrando, quando senti meu coração não obedecer os comandos do resto do corpo. Você desceu do carro, entrou na portaria e estava triste. Cansado quem sabe. Mas triste e cabisbaixo. Suspirou enquanto esperava a liberação da porta e arregalou os olhos quando me viu. Sorriu de canto, quase como quem revê um fantasma bem quisto. Veio na minha direção, largando tudo que estava segurando e me abraçou como se o mundo tivesse acabado. Aquele abraço forte, cheio de saudade, me fez ter os olhos marejados e a boca anunciando um pedido de desculpa. Você não me soltou e só perguntou o porquê eu tinha sumido assim. Eu não respondi, como sempre e me aninhei no seu peito. O porteiro mais do que nós dois, parecia entender aquela cena como o ápice da saudade. Subimos em silêncio, você de olhos fechados no elevador e eu sem saber como sumir daquela situação. Eu realmente o havia machucado de maneira grandiosa. Ao chegar na sua porta, parou com a chave na fechadura, virou pra mim e me beijou com desespero. E eu sem entender, não me mexi. Quando você colocou sua cabeça na minha e disse: eu quase te esqueci. Entendi instantaneamente que havia outra mulher. Entramos no apartamento. Você sentado com as mãos agarradas e o rosto franzido e eu encostada na bancada, te olhando de perfil. Não sabia o que dizer, nem como dizer. Eu só não queria ter lhe machucado. Esperei em silêncio qualquer manifestação sua, mas só encontrei o mesmo silêncio. E me deixei levar pelo impulso de querer de novo seu corpo agarrado ao meu. Você me fez falta. Uma imensa falta. Não que eu pudesse justificar meu sumiço repentino e as minhas atitudes, mas senti falta de nós, mesmo que não falasse sobre isso. Sentei na sua frente, pegando nas suas mãos e pedi desculpa da maneira mais sincera que eu poderia. Você pela primeira vez em quase meia hora, me olhou nos olhos deixando as lágrimas tomarem conta. E eu me assustei. Te fiz chorar. Peguei no seu rosto e me desculpei novamente, não querendo que nada daquilo estivesse acontecendo. Você quase sem conseguir falar, disse que havia se conformado com a minha ida e que não conseguia entender. Eu tentei me explicar, sabendo que não existiam palavras que pudessem mudar tudo aquilo e te abracei com a maior pureza que eu tinha dentro de mim, te deixei chorar e me machuquei ao ver o quanto tudo tinha afetado você. Nos beijamos, nos abraçamos e eu notei o quanto a minha vida tinha ficado novamente incompleta sem você todas as noites do meu lado. Depois de horas, levantou a cabeça do meu colo e pediu pra que eu não fosse mais embora. E pela primeira vez, mesmo querendo ir e nunca mais aparecer, eu prometi que não irei a lugar algum sem você, e dessa vez, não vou mesmo.
"...e eu sigo desligando, interrompendo as músicas que ouvíamos na sala, no carro, pois cada verso, cada letra, é de mim que falam, da sua ausência, da minha dor, do seu novo amor. Quem é ela, tão mais linda e jovem que eu, tão mais nova em sua vida, tão feliz com a sua chegada, tão cheirosa pra você, como você consegue dizer pra ela o que me dizia, você já disse que a ama? ... Eu mal te conhecia e de dentro de mim saiu aquele te amo com uma voz que era a minha, porém num tom mais leve e de uma sinceridade que me comoveu, te amo, e também nunca mais pare, e nunca vou parar, te amo e quero te matar, queria que você evaporasse, onde é que eu te incinero, te escondo, te enterro, me conta onde fica esse esconderijo secreto, o mesmo onde você sumiu com todos os eu te amo que me disse..."
- Martha Medeiros - Fora de mim.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Se você aparecesse

Ás vezes eu me pergunto o que eu faria se você aparecesse na minha frente hoje, tanto tempo depois. Acho que isso pode acontecer porque eu rezei tanto pra te ver quando eu estava superproduzida, cheia de amigos e muito bem acompanhada, que é bem provável que o destino te coloque na minha frente quando eu sair de qualquer jeito na padaria da esquina com a camiseta do pijama e a cara amassada. Eu quis tanto mostrar pra você o quanto estava bem enquanto chorava a sua ausência em cada canto de mim, que agora que organizei meus pensamentos e não quero mesmo mais te ver, não sei o que faria se você aparecesse. Talvez eu olhasse bem no fundo dos seus olhos e conseguisse entender se o que nos separou foi medo, indiferença ou desamor. Quem sabe lá estivessem algumas das certezas que eu insista em negar ou alguns dos motivos de ter pulado com pedras nos bolsos no seu oceano, sem me importar que o mundo dizia que eu precisava de colete salva-vidas. De repente, olhando no fundo dos seus olhos, eu percebesse porque as suas palavras eram tão profundas e os seus sentimentos tão rasos. Quem sabe até sentisse pena de quem apaixonou tantas companhias e, quem sabe, sinta a mais completa das solidões. Se você aparecesse, impulsivamente eu poderia te abraçar. Esquecer tudo o que passou e optar por alguns instantes da nossa velha intensidade de volta. Sentir o cheiro do teu pescoço – você ainda tem cócegas infinitas nele? – e sentir o calor mais verdadeiro de tudo o que eu já senti. Aproveitar a amizade apaixonada que me fez tão bem sem medir a altura do tombo – ou a profundidade do mergulho. Não viver aquele momento como quem acredita que pode não haver amanhã, mas como quem entrega tudo o que guarda no peito no último suspiro. Eu poderia expressar toda a raiva que eu senti em pontapés e tapas. Eu poderia te machucar de verdade, porque eu não sou forte, mas a dor que eu senti é e eu sei que ao menor deslize ela toma conta de mim de novo. Quem sabe eu não caísse no choro? Afinal de contas, te ver seria ressuscitar um pedaço de mim que eu matei. Talvez eu chorasse de um luto vivo e pulsante demais para ser chamado de luto, talvez eu chorasse de alegria por saber que não passou de um sonho besta ou, quem sabe, eu chorasse por descrença, desespero, fraqueza. Se você aparecesse quem sabe eu clamaria por um conversa de verdade, por um pouco de maturidade na tua capacidade infantil de sumir e pela minha capacidade ainda mais infantil de sofrer. Talvez eu sentasse na tua frente e desmontasse cada um dos teus argumentos como naquela noite. Talvez eu esquecesse todos os argumentos e conseguisse expressar só um pouco de tudo o que me engasga e me sufoca, mas que eu só conseguiria explicar pra você. Quer saber? Se você aparecesse, provavelmente eu viraria as costas e seguiria em outra direção. O mundo ficaria em stop motion para que cada passo na direção contrária a sua tivesse a duração de um filme do que não vivemos em sessão exclusiva pra mim. O caminho da minha felicidade longe de você pode ser mais longo, mais cheio de curvas e talvez eu siga a vida inteira buscando o pote de ouro no final do arco-íris. Mas, se você quer mesmo saber, eu acho que a minha maior mudança em todos estes anos foi conseguir te enxergar exatamente do jeito que você é. E aí, quando eu te vi de verdade, eu percebi que prefiro ser metade.
- Marina Melz

Eu ainda...

Eu ainda checo a minha caixa de e-mails freneticamente. De cinco em cinco minutos estou eu lá. E quando está carregando as novas mensagens, eu rezo que a promoção de iPod super-maneiro seja substituída por um “oi, tudo bem?”. Eu só queria que um dos e-mails diários que eu recebo de “aumente seu pênis” fosse um “vamos parar de bobagem e ir tomar aquele cappuccino?”. Eu ainda tenho a mania idiota de ligar do telefone do trabalho pro meu celular só pra ver se está funcionando, porque se você lembrar de mim, tentar me ligar e por algum motivo ele não estiver funcionando, eu me mato. Também ainda ligo e desligo o pobre coitado quinze vezes ao dia, só pra procurar área de novo e ter certeza que não recebi nenhuma mensagem. Nunca é um e-mail bacana, meu celular sempre funciona e nada. Eu ainda leio o que você escreve e morro de vontade de te perguntar o que eu posso fazer pra tirar esse peso das tuas costas. Será que você não quer dividir o seu mundo comigo? Eu ainda tenho certeza que não, ainda tenho esperança que sim. A minha ansiedade ainda me faz escrever várias páginas sem nenhum sentido quando não são em primeira pessoa, talvez porque a primeira pessoa que me faz escrever é você. Ainda continuo sendo impulsiva e, confesso, ainda ando tendo paixões fugazes por aí. Em todas elas, eu ainda espero te encontrar. Não, eu ainda não mudei. Em compensação, você mudou muito. E eu ainda acho que essa mudança poderia ter sido menos dolorosa pra você e pra mim. Eu ainda lembro aquele dia que mesmo fazendo oito graus, eu senti um calor desumano. Ainda lembro, também, daquela conversa que nós tivemos e de quando eu te disse que não queria casar contigo no outro dia. Só eu sei o quanto eu queria te perguntar onde tinha uma igreja e um padre, mas eu ainda lembro que você tem medo de amar. Depois de tanto tempo, eu ainda busco explicações pra nossa sintonia e pro dia em que ela simplesmente se foi sem explicação. Eu ainda não entendo como em tão pouco tempo você se tornou a parte mais charmosa do meu mundo, como eu pude te querer tanto e como eu coloquei a minha alma numa bandeja pra te entregar. Impossível de esquecer o dia em que nós passamos a noite inteira na mesma festa sem nos falarmos. Ainda lembro das menininhas dando em cima de você e da minha cara borrada no espelho do banheiro, morrendo de medo de sair e te ver com qualquer uma delas. Ainda dói saber que tudo podia ter sido tão diferente. Ainda espero por um sinal de vida teu. E se a tecnologia não ajudar, pode ser por carta, bandeira, sinal de fumaça. Na verdade eu ia achar ainda mais bonito. Eu ainda espero que você consiga me surpreender, porque a normalidade da vida me dá ânsia de vômito e eu ainda tenho aquela minha pior mania: de ainda acreditar que a gente pode dar certo.
Marina Melz

Achava que bastava café amargo

Achava que, depois daquele infindável inverno, as coisas finalmente voltariam ao normal e que aquele imenso galho seco, retorcido e cabisbaixo, seria enfim recoberto pela cor das flores amarelas que tanto amávamos elogiar enquanto passeávamos de carro e sem rumo, pelas ruas estreitas da vida. Achava que essa nova estação teria o mágico poder de me deixar bem mais distante das paradas que fizemos no passado e confortavelmente mais longe das lembranças daquilo que trilhamos em nossos vagarosos vagões. Achava que, depois daquele silêncio insuportável, vez ou outra interrompido pelo barulho imaginário do seu falso retorno abrupto, eu poderia enfim voltar os ouvidos para um blues tocado por esse céu aparentemente feito de giz e para o jazz, que ouvíamos enquanto ainda havia ouvidos atentos para nossa paz. Achava que, depois de engolir algumas muitas coxas de moças cujos abraços eram apenas rascunhos malfeitos dos seus abraços, eu finalmente seria capaz de livrar-me do seu gosto, dolorosamente incrustado em minhas papilas gustativas. Achava que o tempo curaria essa ainda potente abstinência e que, após muitos giros estonteantes no relógio, o ponteiro enfim se transformaria na varinha de condão necessária para que você sumisse de minha cartola e eu, enfim, desgrudasse meu futuro ilusório de sua cola desnecessária. Achava que bastaria trocar você por alguma coisa e que, dia após dia, hora após hora, verão após verão e café amargo após café mais amargo ainda, eu conseguiria fazer com que desentalasse de minha garganta que já não suporta mais essa dificuldade de engolir a sua ausência. Percebi que achava errado e que nosso passado não passa com a vinda de novos passos, e que suas poças, repletas de reflexos de nossos brindes estilhaçados, ainda estão em todo lugar. Mesmo com o tempo a todo vapor, você não evapora nunca do meu suor.

 - Ricardo Coiro

Tudo o que eu sinto é saudade.

Eu não sabia que doía tanto um porta-retrato, um jardim, um travesseiro… Não sabia que doía tanto ser turista na saudade de quem a gente ama. Não sabia que quando as pessoas se vão, deixam mais de si do que conseguimos suportar. Não sabia que o amor, mesmo com um ponto final definido, deixava tantas reticências. Às vezes antes de deitar, entre as conversas que tenho comigo mesmo, brinco de te lembrar, de ensaiar maneiras novas de te fazer carinho, de beijar tua barriga, morder tua orelha, colocar a mão no teu pescoço, rir da tua cara, brincar com teu nariz… Às escuras, e com o celular pousado no peito, resisto todo dia à tentação de te mandar alguma mensagem sob o pretexto de saber se por caso ainda está acordada. Tudo o que eu sinto é saudade. Entre um abajur de canto e uma boa música, me deixa lembrar como a gente era carinho. E, mesmo sem motivos para voltar, agradecer baixinho pelos momentos que ainda se fazem eternos. Só, por favor, não me faz silêncio, pois ainda és meu barulho. Mas também, não me sussurra, pois ainda és minha canção. Mas, me deixe lembrar dos beijos, pois já sou todo saudade. Hoje, a tua saudade tá doendo em mim, e com ela sendo companhia, me lembro, ainda sem saber o que sentir, como dentro de um abraço é sempre quente. Então, apesar da falta que você me faz, que eu não deixe de amar a saudade que tenho, mas que eu saiba deixar que a dor se vá, voante pelo jardim, pelo travesseiro, pelo porta-retrato…
- Frederico Elboni (Blog: Entenda os Homens)

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Ritmo

Essa madrugada me permiti adormecer nua no colo de outro, me aconchegando aos músculos do peito e braços dele como fazia contigo. E pela primeira vez em tanto tempo me senti relaxada naquele colo estranho, sorri ao sentir o aconchego mútuo dos corpos e a vontade de ambos de estarem ali exatamente naquele lugar, onde o mundo parecia infinito. Adormeci e sonhei com o rosto encaixado no pescoço dele, se reajustando aos movimentos do sono, mas jamais saindo de perto daquela respiração pesada que anunciava o comprometimento de estar somente ali do meu lado. Conforme as horas passaram, me senti estranhamente feliz por estar ali sem sequer lembrar das batidas do seu coração e é exatamente sobre isso que vim falar. Batidas cardíacas. Aquelas que ritmam meu sono e embalam meus sonhos a anos. Quase como um recém nascido, adormeço de maneira calma quando tenho outro coração perto. Até então sentia a falta do ritmo do seu coração e da sensação que eu tinha ao dormir com aquele ritmo acelerado colado em mim. Mas essa madrugada algo mudou. Não me recordei do ritmo decorado e nem o quis perto. Estive por horas concentrada em um novo coração, um novo ritmo, uma nova respiração. E por incrível que pareça, não só me concentrei como sorri calmamente ao reconhecer que meu coração também bateu tranquilo ao obter um novo ritmo para seguir. Quem sabe dessa vez... Eu realmente consiga esquecer você e pelo jeito é isso que meu coração pela primeira vez, também afirma compassado, ritmado, calmo e apaixonado.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Preciso ser sincera com você, não me encontro feliz. Mas já não reclamo da minha falta de sorte, pois em dias como hoje percebo que seria reclamar em vão. Tenho sorte sim e muita. Só não sou integralmente feliz. O passado muito me machuca quando relembrado e você quase incluso nesse período é o que me dói o tempo todo, mesmo sem necessariamente precisar ser recordado. As vezes em um cheiro na rua, uma história engraçada ou na minha evolução como ser humano, sinto sua falta. Falta de sentar do seu lado e tagarelar feito uma doida sobre minhas confusões pessoais. Falta de comer um cachorro quente da esquina enquanto você ignora minha existência por causa dos Simpsons e mais falta ainda dos seus olhos brilhando ao me ver fazendo uma coisa banal. Sinto sua falta. E essa é uma verdade inquestionável. Bem como a verdade de continuar te amando desesperadamente, mas já não gostar tanto da pessoa que você é. Talvez haja um sentido dúbio nesta frase, mas por mais que sejas o amor da minha vida e que pessoalmente não hajam dúvidas perante isso, és também um passado que eu ficaria grata em esquecer. Te amar me machuca, me fere, me entristece. Me faz questionar a mim mesma como pessoa e tomar pra mim o erro da relação. Por saudade vivo voltando, falando e ficando feliz com qualquer migalha que me dê. O que posteriormente me causa ainda mais tristeza. Suas migalhas são suficientes temporariamente e terminam quando noto que não é do meu lado que estás dormindo. Muito pelo contrário. Tens alguém que provavelmente te ame, mesmo que um terço do que eu amo. Mas ama. E deve te olhar como eu te olhava, temer sua ida como eu temia. Percebendo isso fica impossível continuar gostando de você. Impossível continuar com essa tortura que suas lembranças me causam várias vezes por dia. Eu quero sim e preciso te esquecer. Por mim mesma. Preciso fechar o ciclo vicioso de sempre te querer quando você mal se importa com a minha existência. Preciso fechar a porta e esquecer de deixar o aviso dizendo que a chave reserva está em baixo do tapete. Talvez fazer mais, me mudar. Te deixar sem informações ou palavras, simplesmente ir. Ir pra onde nada nosso possa interferir e treinar minha cabeça a já não te querer. "te amo, mas não gosto mais de você" E ao aceitar isso, o próximo passo é já não te amar mais. Na nossa convivência me achavas fraca, dramática, insuficiente e até mesmo nas suas palavras eu não sabia amar. Com o passar do tempo olho pra trás e não enxergo mais o homem que causou em mim a inexistência do tempo. Enxergo sim alguém que não soube, nem nunca saberá o quão lindo é amar alguém inteiro. Eu te amo dessa maneira, te amo completo. Seus defeitos, erros, problemas... Amo seu jeito, sua voz, seu sorriso... Ah como amo. Mas já não aguento o cansaço de te amar e as despedidas frequentes começaram a significar o estopim. Jamais imaginei que ao amar alguém, eu fosse obrigada a deixar o amor lá guardado, escondido no escuro. Mas esse foi seu principal ensinamento. De tudo o que eu podia tirar de nós dois, tirei que nem sempre o amor é o suficiente. Sendo assim, mesmo que não saiba como, rezo todos os dias para que continue sendo essa pessoa que eu desconheço e que me afasta. Rezo pra que você jamais volte. E para que eu deixe te amar. Deixe de sentir essa imensidão e o vazio que ela me causa quando acordo sozinha, mas amando alguém que já nem se importa com nada e me deixou, lá atrás quando disse que jamais se arrependeria de ter me deixado. Você estava certo, não se arrependeu e seguiu em frente. Mas eu me arrependi, me arrependi do dia em que ignorei meus instintos e disse pra mim mesma que nós daríamos certo. 

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Não sabemos dos porquês, mas de alguma forma tudo veio a acontecer como geralmente acontece: foi-se embora o que parecia que nunca fosse ir. Com a exceção das cartas engavetadas que morrem a cada noite sendo maltratadas pelo tempo, pelo ressentimento e pelo silêncio insatisfeito que exala da boca imóvel ao tatear as bordas, nada permaneceu. E lembramos disso o tempo todo e nos calamos para não soarmos loucos ante à humanidade, cuja natureza não se comove mais com o sofrimento alheio e ri na cara de quem pede ajuda. E seguimos assim, querendo voltar no tempo e consertar tudo, embora concordemos por telepatia que nada disso tenha conserto. Contudo, se houvesse um jeito de reorganizar toda nossa história, talvez não saberíamos como lidar com a mutabilidade, já que nossa essência como casal sempre residiu na estagnação. A desesperança tomou conta. E agora, acompanhados de perto pelo desespero cortante e pela angústia que rasga o peito, andamos por aí completamente sem rumo, fingindo que tudo está perfeitamente normal para não termos que lidar com as eventuais perguntas dos que percebiam a magnitude do sentimento que escorria por entre o nosso entrelaçar dos dedos.
— Junior Lima.

Meu adeus..

Ao dizer adeus por um segundo relembrei toda a nossa história. Relembrei os primeiros sorrisos, frios na barriga e brincadeiras intermináveis. Relembrei os dias em que contava os segundos para rever seu rosto iluminado no fim do dia e sorri quando lembrei que me iluminava quando te via. Por alguns instantes também relembrei os problemas e as brigas. Retomei todos os nossos passos e entre erros e acertos... Repeti ao vento meu adeus. Não certa de estar fazendo o que era melhor, respirei fundo. Puxei o ar de onde nem havia vida. E cai no choro. Pela primeira vez em anos, a despedida foi real. Não lhe desejei o mal, como poderia? Em mim só há amor por você, apesar de todos os pesares. Não lhe quis de volta. Nem quis uma resposta. Só, entre um suspiro e outro, desejei que fosse feliz da maneira mais completa que alguém nesse universo possa ser. Desejei que prosseguisse com a ideia de se casar novamente e que esperasse ela na igreja com aqueles olhos brilhantes que tanto me fizeram amar olhar você. E desejei com a mais pura sinceridade que seu futuro lhe desse sonhos. Imensos. Grandiosos. Me despedi como quem completa um álbum de fotos. Colei meu último sorriso e derramei minha última lágrima, sabendo que ainda pensaria em você. Me despedi e declamei meu adeus não somente ao nosso passado e a você. Dessa vez, me vi gritando uma despedida do que eu sou quando te amo. E posso afirmar que ao me despedir de você, eu sofria. Ao me despedir de nós, me sentia morrer por dentro. Mas, ao me despedir de mim, implorando o fim deste amor, senti somente um imenso vazio que não pode e nem nunca será inteiramente preenchido. Ao dizer adeus á mim mesma, aceitei o desalinhar do universo e a triste certeza de que enfim, não há mais passos nessa estrada, Chegamos ao fim da caminhada e já cansada de andar sozinha, repito meu adeus, esperando que eu possa achar outras trilhas ainda encobertas pela dor de te esquecer.

A dificuldade do adeus.

Mesmo que eu não quisesse crer que o tempo passaria, ou que eu fosse capaz de um dia olhar em volta e dizer que cansei... Ambas as coisas finalmente aconteceram. O tempo passou e levou você junto com ele. Me fez ter sua imagem mais embaçada, sua voz mais distante e seu sorriso quase irreconhecível. Passou levando a única coisa da qual eu nunca quis me ver livre, as nossas lembranças. E talvez por isso hoje quando levantei da cama ainda sem saber o que seria do meu dia, me possibilitei escrever um e-mail que resumia o luto interno. Me despedi solenemente de você, atestando ser necessário que não nos queiramos mais e que o cansaço por fim havia me vencido. Te deixei com meia dúzia de palavras, algumas lágrimas e uma certeza de que enfim o tempo teria me atropelado. Nos atropelado. Já havia me despedido de você antes, sempre voltando pela saudade ensurdecedora. E a maior diferença está aqui. Dessa vez não me despedi de você. Dessa vez me despedi de nós dois e deixei com que esse amor e essa saudade por fim preferissem o silêncio de um adeus transfigurado de "até logo".

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

O tempo passou, mas...

Prometi pra mim mesma que pararia de falar sobre "nós" no presente e deixaria com que virássemos somente o que somos, o passado. Insistentemente me relembrei por dias, semanas e quase meses que este comportamento me salvaria da saudade insana que sinto, mesmo sem lembrar perfeitamente do seu rosto. O plano parecia realmente perfeito, mas algo mudou depois que a tal saudade passou a ser uma preocupação sem fundamento quanto ao seu bem estar. Por semanas me peguei pensando sobre como estaria você e se realmente estava bem. O que por consequência me fez discar seu número e escutar sua voz. Naquele segundo que escutei a voz tão bem conhecida pelos meus sentidos, me surpreendi com a felicidade não dimensionável que senti, com o sorriso mais largo do que meu próprio rosto podia suportar e com o coração saltando no peito como se algo se encaixasse no universo. Falar com você fez com que meu comportamento de te deixar no passado se tornasse meramente inútil. Ao te ouvir do outro lado da linha, algo em mim mudou. Mudou o fato de que novamente percebi que não, eu não esqueci você. Muito pelo contrário, ainda o amo da mesma forma, porém em maiores proporções. Não entendo como posso ainda amar tanto um rosto nebuloso, ou uma lembrança falha, mas amo. Amo da maneira incrível que amei quando vi pela primeira vez, desejo com o mesmo ardor que desejei quando senti sua pele na primeira noite e necessito como necessitava da proteção dos seus braços em meus dias ruins. Estamos a muito tempo separados, você já tem alguém e suponho que casar com ela seja realmente seu próximo passo. Mas nada disso me impede de te amar e não conseguir amar mais ninguém da maneira grandiosa que te amo. Você é aquela constelação de estrelas que não pode ser igualada ou superada e ainda é o que mantem meu céu escuro brilhando dia após dia. De longe, mas sempre presente dentro de mim.