domingo, 23 de agosto de 2015

Eu preciso que você diga alguma coisa, qualquer coisa. Nem que não peça desculpa pelos erros. Não assuma os problemas. Nem se quer diga que se arrepende. Eu já desisti de você e talvez desse passo não haja volta. Mas eu preciso que você assuma uma postura diferente da qual vem assumindo. Nós dois sabemos exatamente os passos que demos, eu os assumi, você os omitiu. E eu preciso que você faça esse barulho todo parar. Aos poucos eu venho enlouquecendo, me perdendo e perdendo junto o pouco de lucidez que eu ainda tinha quando você apareceu na minha vida. Nada disso é justo. Nem comigo, talvez nem com você e muito menos com as outras pessoas envolvidas no assunto. Não é justo porque não foi uma escolha minha e só eu sei o quanto eu tentei me desvencilhar de você durante todo tempo em que estivemos perto um do outro. Eu tentei e você sabe que me puxou de volta todas as vezes. Você sabe o que fez, o que disse e o sentimento que fingiu ter. Eu não quero nada disso de volta. Não te quero de volta. Até porque o homem pelo qual eu me apaixonei não existe. Mas eu preciso que você aquiete minha mente, que assuma seu erro e me tire da linha de tiro. Eu preciso que você se coloque no paredão de fuzilamento e tire de mim as acusações que você causou. Preciso que me peça desculpa. Mesmo que da boca para fora. E eu preciso disso, porque eu preciso te esquecer. Eu preciso te superar. O sentimento que ficou tá me corroendo de dentro pra fora. Eu sonho com você, eu sonho com as pessoas que você envolveu e sonho com o que você era pra mim. Eu choro por você, por mim e por toda essa maldita situação que você armou. É como se você tivesse planejado o crime perfeito, colocando-o em execução e fugindo no escuro, me deixando com as mãos ensaguentadas. Na hora do flagra, era eu quem estava com as armas, o sangue e sem álibi nenhum. Os jurados me condenaram a morte, o júri apontou os dedos e a população gritou por dias seguidos a minha culpa. Era o meu rosto que estava estampado nos jornais mais sérios, o meu nome que já não era mais tão sério e minhas ações que passaram a ser observadas. No começo eu gritei e bati o pé tentando demonstrar que a culpa também era sua, mas de dentro da cela se tornou cansativo demais te acusar. Meus advogados me imploraram por silêncio. Seus advogados me acusaram. Você me acusou de maneira fria e sem escrúpulo nenhum consentiu com a cabeça ao ver que haviam me condenado. Você não oscilou nem se quer por um segundo, não deixou de dormir a noite e nem de sorrir. Não pensou que eu estava jogada na solitária, no escuro, machucada e prestes a ser fuzilada. Ou pensou e não se importou. Mesmo sabendo que o crime foi mais seu que meu, você não se importou. Mas eu preciso que se importe. Mesmo que seja aos quarenta e cinco do segundo tempo, eu preciso que você seja a peça de diferença. Preciso que bata no peito, assuma o crime e impeça que eu seja levada ao esquadrão de extermínio. Eu quero continuar vivendo, quero esquecer que eu teria enfrentado a perpétua do seu lado e pra isso, eu preciso que você assuma sua parte. Tudo isso tem sido pesado demais pra assumir sozinha. Eu preciso te esquecer, eu preciso te superar porque se eu não fizer isso, enfrentar o fuzilamento parece a menor das torturas que eu vou ter que passar. Você tá na minha cabeça e eu preciso que você saia de uma vez por todas. Encerra isso, por favor. Pede aos seus advogados um jeito e coloca o ponto final nisso. Eu tô implorando. Por favor me tira daqui e me deixa viver.
Hoje eu senti medo e não foi um bom dia. Não tenho passado bem e você melhor do que ninguém sabe o quanto isso me assusta. Semana passada foi uma boa semana, eu quase esqueci os problemas. Pena que não pude esquecer por completo quando isso reapareceu e eu volto a dizer, senti medo. Eu podia não estar sozinha e ter alguém ali me dizendo o que você deveria ter dito. Eu tinha alguém pronto pra me abraçar quando o medo tomou conta. Mas preciso te dizer que o medo não passou. Eu não estava bem e para piorar um pouco, eu ainda lembrava de você. Aqui dentro desde que tudo acabou eu vivo nessa guerra interna entre a saudade da pessoa que eu conhecia e que era capaz de fazer meus medos irem embora, e a raiva da pessoa que surgiu no último mês e que me causou mais dores do que eu posso explicar. Por um lado eu morro de raiva de você todos os dias e te desejo somente as coisas mais horríveis que eu consiga pensar. Mas no momento seguinte, não é raiva, é mais uma tristeza absurda que anda de mãos dadas com uma saudade incompensável. Nesses momentos de medo, eu me pergunto quem é você. Me pergunto se aquele que me causa a saudade existiu, ou se em você só existe esse monstro asqueroso que eu tive o desprazer de ver antes de poder tentar ir em frente. Me pergunto se eu me machuco por alguém que valia cada reconciliação, ou se eu estou morrendo por aquele que virou as costas, mentiu e me deixou submersa com duzentos quilos em cada tornozelo. É torturante não saber se a raiva está correta, ou se a saudade viu o que mais ninguém enxergou. E eu tô com medo sabe?! Medo de tanta coisa, de tudo pra ser sincera. Eu preciso que você encerre isso, mas ao mesmo tempo não consigo encerrar. Eu tento todos os dias sair disso e só consigo me perguntar, por que? Que passo eu dei errado pra ter que passar por isso? Esse silêncio destrói comigo. E a culpa é sua. Isso eu queria poder gritar aos quatro ventos. Você é covarde! E a culpa é sua! Não minha. Me tira disso! Assume seus erros e faz com que me deixem em paz! Por favor, eu não consigo mais... Aparece e me salva do teu mar de erros. Me tira dessa areia movediça, some com meus medos e me coloca no oxigênio. Eu sobrevivo sem você, óbvio que sim. Mas vou acabar morrendo sufocada se você não me tirar dessa confusão que você causou sozinho. E olha, escuta, eu tô pedindo socorro. Eu tô implorando. E hoje eu senti medo. Hoje não foi um bom dia.

sábado, 22 de agosto de 2015

Eu acordei naquela manhã e não era mais você. O seu olhar não voltaria a me ver e nem sua voz a me chamar. Eu abri meus olhos e não encontrei mais os seus. Aconteceu assim, repentinamente. Deixamos de ser eu e você. Naquela manhã, amanheceu e eu teria que me adaptar a ser só eu novamente nos espelhos dos caminhos que eu escolhesse seguir. Não importava o que eu fizesse, era insuportável pensar que você tinha ido pra não voltar. Não haveriam mensagens de desculpa, ligações de reconciliação e nem um abraço apertado. Pela primeira vez naquela manhã, eu percebi que não importava mais se eu tivesse medo de te perder e nem te importavam mais minhas lágrimas por não saber o que fazer. Você tinha me deixado, seguido pra longe de mim. Você tinha ido embora e ainda tinha me deixado lá sozinha com uma conta alta para pagar. 
Eu fui dormir naquela noite e pela primeira não importava quem tinha ganhado ou perdido. Eu realmente estava destruída e você, bom eu não sabia de você. Mas parecia estar tudo bem. Você não se importou com a dor que causou, não se importou com a destruição em massa que fez e mesmo com a consciência do que causou, foi incapaz de se desculpar e deixa eu te contar que nesse pouco mais de um mês que passou, eu acordei nos dias seguintes, fui dormir por noites e noites... E ainda não passou. 
Eu posso estar com o rosto mais feliz, a postura mais forte e enganando melhor quando digo que está tudo bem. Mas ainda me incomoda. Você se tornou uma tortura. 
Dia após dia, eu acordo e a ficha cai de que não, não existe mais o que já existiu. Eu passo o dia todo notando que não haverão mais formas de me entender contigo. E quando chega a noite piora, porque a dor me consome. Entende? Dói! E eu não posso dizer isso pra ninguém porque o teu erro matou nós dois, mas você saiu ileso. Eu preciso me fazer de forte, dizer que pra mim não faz diferença, mas faz. Eu precisava que você ao menos tivesse sido homem pra não deixar as pessoas a nossa volta me massacrarem como aconteceu. Eu precisava que você me defendesse e me protegesse. Eu precisava que você tivesse se desculpado. E você não fez nada disso. 
Eu enfrentei tudo sozinha, sorte minha. Talvez, eu tenha ficado mais forte. Mas preciso te dizer, tá doendo. E dói porque eu não te esqueci, dói porque eu morro de saudade e dói mais ainda porque eu amo alguém que de dissipou feito areia no vento. 
Não faz diferença eu dizer tudo isso, mas... Maldição. Você ter ido embora, me matou um pouquinho mais e você não ter voltado se tornou a queimadura constante mais ardida que já me foi causada na vida. 

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Você não pode fazer isso. Entrar na vida de uma pessoa, fazer com que ela se importe com você e desistir assim.
— The Walking Dead. 

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Não importa o quanto algo nos machuca, às vezes se livrar dele dói ainda mais.
— Grey’s Anatomy. 
Não consegui dormir. Fiquei olhando para o teto, fantasiando diálogos. Malditas fantasias. Me assombram feito fantasmas. Pairam sobre a minha cabeça e surgem a cutucar as minhas inseguranças. Toda noite era assim. Eu imaginava o que podia ser e perdia o sono. Hoje, diferente dos outros dias, não me imaginei com você. É estranho. E talvez você me odeie por isso. Mas esses diálogos imaginários são espontâneos e eu mal os controlo. Pensei em alguém que surgia para me salvar disso tudo. Para me livrar desses questionamentos todos e me trazer certezas. Sonhei acordada com alguém que talvez me fizesse colocar as minhas ideias na cabeça. Pensei no que esse ser diria e como isso fluiria bem. Fantasiei com outro. Me desculpe. Mas é a verdade. Fantasiei que outro me salvava das incertezas que você me deixou. E eu podia finalmente estar feliz e tranquila, como costumava ser quando você estava por perto. Sonhei que refiz minha confiança em outro alguém… Tentei não sonhar com isso em memória a você. Entrei em conflito. Porque eu não queria te deixar assim… Mas você me deixou e eu preciso, preciso mesmo, seguir em frente… E por que não… Por que não com ele? Mais uma pergunta sem resposta. Quanto tempo mais essa insônia dura?
— Liza Bolarg.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Sentei no meio da mesma sala de sempre, jogada no tapete que sempre atacou minha renite e tentei finalizar um projeto que tenho em desenvolvimento. Trabalhar nunca foi um problema para mim, aliás, trabalhar sempre foi a solução para desfocar os sentimentos do meu dia a dia. Meu dia hoje estava sendo um bom dia, recheado de ideias para os novos projetos, de ligações, vídeo conferências e documentos que eu precisava manter em ordem. Do meu jeito torto, estava sendo um bom dia. Tinha meu trabalho de volta, minha mente lotada e um homem que chegaria no fim do dia com os olhos felizes por estarmos tentando de novo. E volto a dizer, estava sendo um bom dia. Sabe o que deu errado? No meio de um projeto grande eu quis te ligar, quis conversar e quis a sua opinião. Não a opinião dele. Mas a sua. Eu estava ali jogada no meio da sala dele, no apartamento que ele insistiu que seria meu também e onde eu ultimamente tenho passado mais tempo do que esperava. Eu estava ali sem pretensão nenhuma de lembrar da sua existência. O que eu queria era trabalhar até dormir em cima dos papéis, acordar com um abraço apertado desse homem incrível que me aceitou de volta e finalizar o dia com a leveza de ter tido um bom dia pessoal, profissional e sentimental. Mas ali no meio daquele projeto, eu lembrei de você. Lembrei do quanto queria sentar do teu lado e explicar o que eu tinha pensado. Explicar como finalmente iria colocar todos os meus planos no papel e o quanto isso seria bom pra mim e para você. Lembrei do quanto pra mim era fácil planejar ter um império de novo ao seu lado, essa ideia me deixava feliz. Você fazia parte dos projetos. E eu lembrei disso. E quando lembrei, me deu uma saudade absurda de você. Não finalizei os projetos, porque mesmo tentando ainda havia muito de você em cada um deles e eu não conseguia lidar com você agora. Não adormeci trabalhando, mas me encolhi no tapete engolindo o choro travado por horas. E não consegui abraçar forte esse ser humano que me ama quando ele chegou em casa. Pelo contrário, pedi desculpa, inventei um compromisso de última hora e vim pra casa. Sentei na minha cama e por alguns segundos era a tua voz que eu ouvia aqui, era a tua gargalhada que ecoava na minha cabeça. Era a lembrança de nós dois que saltava em cada lágrima que caia. Eu senti uma falta desesperadora de você e do que você era. Racionalmente eu sei que nada disso foi importante pra você e que os planos eram só meus. Mas, tirando o racional do jogo, eu morri de saudade e de vontade de acordar desse pesadelo. Entende? Eu lembrei de você, eu precisei de você hoje. Não era dele que eu precisava, não era com ele que eu queria discutir o futuro, os projetos e as ações que eu devia tomar. Era você de novo. Em tudo o que eu pensava, sentia ou planejava. Era você ali nos papéis, é você aqui no meu quarto e na minha cabeça. Mesmo depois de tudo o que aconteceu, ainda é você. E isso é tortura. Eu tenho alguém que se dispôs a perdoar a mágoa infinita que eu causei a seis meses atrás quando você era só o lixo que é em outras vidas. Eu tenho ele agora e eu não consigo esquecer o rastro de destruição que você causou intencionalmente na minha vida. E o que eu devia fazer? Você virou as costas e provou ser um ser desprezível. Já entendi tudo isso. Mas como te faço ser só essa coisa insignificante, quando em alguns momentos eu me pego precisando daquele que era alguém que valia a pena? Eu quero te esquecer, eu preciso te esquecer. Por mim e por ele. E porque você não merece se quer que eu sofra por você. Eu quero, eu preciso... Mas eu ainda não consegui e honestamente, nessas horas eu só queria nunca ter te conhecido.
Sim, eu estou seguindo em frente, mas isso não quer dizer que eu esteja bem. Estou indo em frente, mas uma parte minha morreu lá atrás.
— Gian Lucas.
Mostra que superou. O ser humano aproveita suas quedas para impor o que tem de pior.
— Diogo Carvalho.
Admito que machucou, que doeu, que me sufocou. Admito que eu não sabia pra onde correr. Admito que me consumiu, que me corroeu, que me despedaçou. Mas também admito me fez olhar pra frente e entender que tudo nessa vida tem uma razão, e que se você se machuca muito, começa a não doer tanto.
— Tati Bernardi.    
Eu tenho medo de você abrir o espartilho superficial que aperto todos os dias para me manter ereta, firme e irônica.
— Tati Bernardi 

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Alguns amores a gente carrega no peito, outros, em uma dose de whisky.
— Desopilar
Estou começando a dormir menos agora. Não durmo mais durante o dia, só que também não durmo mais durante a noite. Não sei explicar. É como se eu tivesse medo de dormir. Fico me revirando na cama, até que me sento ao meio dela e fico olhando para o nada, e isso vem me assustando. Eu realmente estou sentindo uma sensação ruim. É como tudo fosse vazio, e ele vai me consumindo por inteiro, eu já não sei o que fazer, e isso está começando a incomodar.
— zebukowski
Em minhas preces de todo dia, sempre peço coragem e paciência. Coragem para continuar superando as dificuldades do caminho naqueles que não me compreendem. E paciência, para não me entregar ao desânimo diante das minhas fraquezas!
— Chico Xavier. 
Fui deixada na areia com as ondas batendo em mim, sem poder me afogar.
—  A Culpa é das Estrelas. 
Fiquei com raiva, com nojo, magoada e destruída depois de você. Por isso eu disse adeus, disse e repito todos os dias que você é só um grande erro que a vida me fez cometer. E eu estaria bem com tudo isso, se não fosse a saudade. Quando sinto sua falta, é quase como se eu esquecesse a covardia, a falta de caráter e a ausência completa de bom senso que infelizmente compõe a pessoa que você é. A saudade em mim funciona quase como uma anestesia. Eu esqueço a dor. Esqueço o que me faz perder o sono todos os dias, a fome e a vontade de fazer alguma coisa com isso que sobrou. Esqueço que odeio você e te amo por alguns segundos quando quase morro de saudade. Saudade dos momentos em que te amar era tão simples e onde eu era infinitamente feliz. Saudade do que eu era quando você não me machucava e a gente não brigava. Saudade das vezes que você me fez voltar porque parecia o certo. E é essa saudade toda que renega o que realmente aconteceu. Você virou as costas. Foi embora. Me deixou com a conta dos seus erros e com a missão de me reconstruir sozinha. Isso aconteceu. Eu sei e sinto a dor que isso causou. Mas eu sinto falta e quando eu sinto falta eu desejo baixinho que eu não precisasse ter dito adeus e que você não precisasse ter virado esse lixo que eu enxergo atualmente.
Deus costuma usar a solidão para nos ensinar sobre a convivência. Às vezes, usa a raiva para que possamos compreender o infinito valor da paz. Outras vezes usa o tédio, quando quer nos mostrar a importância da aventura e do abandono. Deus costuma usar o silêncio para nos ensinar sobre a responsabilidade do que dizemos. Às vezes usa o cansaço, para que possamos compreender o valor do despertar. Outras vezes usa a doença, quando quer nos mostrar a importância da saúde. Deus costuma usar o fogo, para nos ensinar a andar sobre a água. Às vezes, usa a terra, para que possamos compreender o valor do ar. Outras vezes usa a morte, quando quer nos mostrar a importância da vida.
— Paulo Coelho.
É preciso não esquecer nada: nem a torneira aberta nem o fogo aceso, nem o sorriso para os infelizes, nem a oração de cada instante. É preciso não esquecer de ver a nova borboleta nem o céu de sempre. O que é preciso é esquecer o nosso rosto, o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso. O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos, a ideia de recompensa e de glória. O que é preciso é ser como se já não fôssemos, vigiados pelos próprios olhos severos conosco, pois o resto não nos pertence.
— Cecília Meireles. 

Menino dos olhos de Jabuticaba VI

Foi uma semana em silêncio te vendo se desesperar, procurando jeitos de descobrir o que havia de errado comigo. Eu realmente estava confusa, atrapalhada e com medo do que estávamos nos tornando. Minhas coisas já faziam parte da sua casa, que você insistia em chamar de "nossa casa", você já havia decorado meus horários e já fazíamos programas de casal. Eu havia abandonado a noite, o samba, as risadas e as bocas carnudas que eu sempre gostei depois da segunda dose de whisky. Abandonei os perfumes fortes, a maquiagem carregada, e os saltos. Troquei os taxistas fiéis que já sabiam me levar de volta pra você bêbada por horas e horas de séries no Netflix com a sua respiração forte do meu lado esquerdo. Nós éramos um casal. E isso não tinha me incomodado até aquela semana. Eu no fundo gostava da nossa rotina, de ter a chave de casa, de ter uma casa. Gostava de saber que você se preocupava comigo a ponto de arrumar minha bolsa, minha agenda e passar minha blusa na noite anterior por me conhecer o suficiente e saber que eu acordava atrasada, me perdia sem minha agenda e tinha horror a arrumar a bolsa. Gostava dos seus cuidados quando mantinha meu carro abastecido, os documentos em ordem e controlava meus horários de almoço, de saída e procurava facilitar ao máximo minha vida. Gostava de te ver do meu lado quando eu passava mal, de ver que você não se importava com os hospitais, exames, problemas que eu trazia. Eu gostava da gente. Gostava de cuidar de você do meu jeito, nem sempre tão explícito. Mas naquela semana não, naquela semana eu não me vi como alguém que te merecia. Não me vi como uma mulher que fosse te dar filhos, uma família e a estabilidade que você precisava ter. E me entristeceu. Fiquei em silêncio te olhando porque desistir de você seria horrível, não só pra você. Mas não desistir era te prender no incerto que eu sempre fui. Você dizia gostar do meu lado imprevisível, mas eu via o quanto isso te apavorava. Te assustava me ver em festas de família, te machucava a maneira como eu reagia a isso. E eu percebi. Eu notei que o amor que você me dava, talvez eu nunca pudesse te dar. 
Uma semana passou e lembro daquele dia como se fosse hoje. No dia em que eu sai no meio da tarde do trabalho e fui pra casa. O dia em que eu passei horas e horas andando pelo nosso apartamento, tentando achar um motivo pra ficar. Em que me vi arrumando as malas, mas fui covarde pra explicar. Explicar porque eu precisava ir era abrir um espaço para que você me fizesse ficar. E você merecia algo a mais do que me fazer ficar. Você chegou em casa cansado, mas sorrindo quando me viu de camisa no meio da sala. Como sempre me deu um beijo na testa e disse: oi pra você. Foi, tomou seu banho enchendo a casa com aquele cheiro que eu sabia que não encontraria em mais ninguém e sentou na sala comigo. Falamos sobre o dia, o trabalho, a aula... Escolhemos comida chinesa, como toda quinta-feira e assistimos mais um episódio de Criminal Minds. Deitamos as onze da noite de uma noite estrelada. Você com os braços longos tatuados me prendendo no seu corpo até adormecer e eu rezando pra que fosse mais fácil te deixar. Levantei, me vesti, peguei minhas coisas e fui embora. Sem deixar uma explicação, um motivo ou um sinal de vida. Só, fui embora de uma maneira covarde. Por semanas ignorei suas ligações, impedi que nos encontrássemos e te vi de longe sofrendo sem entender o que eu tinha feito. Seis meses se passaram desde então, soube por outras bocas que você ainda não tinha se recuperado de mim, que eu tinha realmente acabado com você. E eu quis me explicar, mas não quis voltar. Me mantive longe. Reencontrei um ex namorado, com quem passei uns meses, conheci outro idiota que me machucou... Mas não esqueci o que eu fiz. Sua vida tomou um caminho longe do meu e eu quis acreditar que era pro bem. Pelo menos até três dias atrás quando o acaso me fez ficar cara a cara com você no meio daquele mercado que a gente amava por ter uma pizzaria na entrada. Te olhei nos olhos e você com uma expressão confusa, triste e desesperada repetiu o "oi pra você" de sempre. Olhando seu carrinho de compras notei que você ainda comprava minhas coisas, talvez na esperança de que em uma noite de bebedeira eu voltasse. Foram seis meses e muita coisa aconteceu, mas ao te rever, eu não lembrava se quer um dos motivos nos quais eu me agarrei pra ir embora. Te perguntei como ia a vida e você sorriu, me disse que estava solteiro e trabalhando. Eu sorri envergonhada e te abracei pedindo desculpa. Foi quando você relaxou o corpo e me pediu pra ir pra casa com você pelo menos naquele dia. Não tive como recusar e nem queria recusar. Três dias atrás reencontrei um pedaço meu quando te vi sorrindo, mais magro e com um jeito de quem havia perdido boa parte de si. Me doía ver que eu causei aquela dor. E no caminho pra casa, te ouvindo falar do quanto a saudade machucou e do quanto você procurou me entender, eu notei o quanto eu havia sido egoísta indo embora daquela forma. Te contei sobre meu ex, contei sobre o idiota mais recente e você riu dizendo que meu dedo podre ainda ia me matar. Sentados os dois naquela mesma sala de sempre, eu vi o quanto minha vida com você se torna simples. Comemos pizza, como toda sexta feira e por um momento nada havia mudado. Eu te abracei, te beijei como antes, dormi do seu lado. Senti meu coração se inundar novamente e por um momento quis que a seis meses atrás eu não tivesse desistido de você, de nós. No sábado não sai de lá, no domingo não quis vir embora. E hoje ao te escutar no telefone perguntando quando eu volto pra casa, mesmo sabendo que no momento meu coração pertence a um idiota, eu quis voltar. Eu tô voltando. Seis meses se passaram desde que eu te deixei sem explicar nada e seis meses se passaram para que eu voltasse pra onde eu não deveria ter saído. Seis meses e finalmente, pede pro porteiro deixar a chave lá em baixo que eu tô chegando. 
Eu queria dizer que perdoo você e que tudo bem em darmos as mãos selando uma paz inexistente, forjando um sorriso que durará somente enquanto tivermos que conviver. Queria mesmo ser uma daquelas pessoas bem resolvidas que depois de uma decepção consegue estar no mesmo lugar que quem a decepcionou e continuar com a cabeça erguida, porque não se importa com a presença do dito cujo. Queria, mas essa não sou eu. Eu não te perdoo por ter entrado na minha vida me fazendo crer que éramos especiais um para o outro. Não perdoo tua insistência em me fazer ficar todas as vezes que eu quis ir. Muito menos as promessas que você nunca pretendeu cumprir. Não perdoo sua covardia em me deixar arcar com seus erros sem ao menos perder o sono por isso. Não perdoo seu cinismo ao dizer que não existiu o que você criou, em me deixar passar como a criatura que te quis sem ser quista. Não perdoo você por ter dito que só não me bateu porque seria covardia, não perdoo as coisas que disse quando falou meu nome, por insistir em dizer que eu te difamei em um lugar que eu não faria isso. Não te perdoo por não me conhecer. Por não ter se desculpado e principalmente por não ter assumido o que realmente aconteceu. Você é covarde. Isso não posso mudar em você. Mas não perdoo sua covardia que começou ao bater o pé dizendo que eu era importante e terminou com você virando as costas quando eu mais precisei que fosse homem. E eu queria ter sido covarde como você. Se eu não tivesse enfrentado as pessoas, você e suas mentiras, hoje eu dormiria a noite toda, comeria bem e se duvidasse ainda iria sorrindo aos exames de rotina. Sairia com meus amigos e daria risada o tempo todo. Conheceria um homem diferente do outro e isso seria bom. Teria bom humor e não o choro travado na garganta. Força pra resolver meus problemas e não um problema que eu não precisava ter. Eu continuaria sendo eu mesma, mesmo que isso fizesse com que a minha vida continuasse na mão de outras pessoas e minha saúde fosse cada vez mais ladeira a baixo. Você foi covarde. E a sua covardia fez com que eu me perdesse e me sentisse incapaz de resolver qualquer coisa que apareça. E nada disso é justo. Não é justo eu não conseguir ir em frente porque um idiota como você não soube ser homem. Não é justo que eu perca minhas noites de sono porque você não assume seus erros. Não é justo que eu sinta sua falta mesmo sabendo que você não vale o que o gato enterra e ainda menos justo é ter que me doer inteira por não ser covarde e não aceitar que as pessoas me julguem por algo que não fui eu que fiz. A cada ataque que eu recebo, a cada problema resultante da sua existência eu só penso em como eu queria ser covarde de virar as costas como você e ir embora. Mas essa não sou eu. Eu sou a pessoa que se defende porque sabe que não cometeu nenhum erro, a pessoa que bateu no peito e disse que sim, amou você. A pessoa que enfrentou e tem enfrentado o mundo todo sozinha porque um homem foi covarde. E se quer saber, não eu não te perdoo. Não espero que você seja feliz. Não espero nada. Só espero que a tua família me deixe em paz, que você covarde como é, não conserte seus erros, mas pare de me torturar. E eu não vou te perdoar por nada disso. Mesmo que eu tente. Eu tenho nojo da pessoa que você é, nojo da covardia que você tem correndo pelas suas veias. Mas ao mesmo tempo tenho força, porque sei que eu não fui covarde. Sei que eu ao contrário de você tive postura e não ergui em momento algum um difame envolvendo seu nome. Tenho orgulho de mim por saber que no fim das contas, fui mais homem do que você vai ser sua vida inteira. E não te perdoo por me fazer ser homem, quando o que eu mais quis foi ter um porto seguro.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Paz para gozar quando, como e se a gente quiser

– Apenas gozarás com muita concentração. E olhe lá.
Escreveu o último mandamento da desgraça da mulher e foi embora. Largou aquela tábua pesada aos pés de toda a ala feminina da humanidade, e a gente ficou aqui, meio sem saber o que dizer. Ou o que sentir. Ou o que fazer. Ou como fazer. Porque se orgasmo é mesmo tudo isso que os privilegiados falam por aí, não conseguir experimentá-lo só pode ser penitência. Ou incapacidade. Ou simplesmente a sina de ter nascido com uma reentrância entre as pernas, um par de peitos para estufar as camisetas e um duplo X, que ser for trissômico dá um trabalho danado.
E aí a gente começa a pesquisar as dicas e os segredos para atingir o orgasmo feminino. Usar gel aqui, tentar um vibrador acolá, ficar na posição assim, tentar uma preliminar assado – considerando sempre que sexo e prazer são uma receita de bolo. Justamente como aquelas que você leu naquele livro da Dona Benta que a sua mãe deu pra sua avó de presente de aniversário. Como se duas xícaras de chá de leite, três ovos e uma colher de sopa de manteiga equivalessem a duas lambidas, três apalpadas e um tapinha. Depois é só colocar no forno que não tem erro. Como se, mais uma vez nas nossas vidas, o histórico, tudo aquilo pelo qual a gente já passou, não valesse de nada.
E a gente já passou por muita coisa… A mim não interessa saber se você já teve um orgasmo ou se você tem vinte todos os dias. A vocês não interessa como eu gozo, se eu gozo ou se eu deixo de gozar. Blog feminino, blog feminino – intimidades à parte. Mas a todas nós interessa uma coisa sob a qual vivemos desde que viemos ao mundo: a repressão sexual feminina. É absurdo uma mulher admitir que se masturba – se for desde a adolescência, então, a coisa fica pior ainda. É ultrajante uma mulher ter tido mais parceiros sexuais do que um homem – já que chave boa é aquela que abre toda fechadura, mas fechadura boa é aquela que se abre com uma única chave. É feio uma mulher contar que consome pornografia para se inspirar – mas homens podem, inclusive, trocar o sexo com a parceira por horas e horas na frente de YouPorns, PornTubes e um mundo virtual de bundas e peitos. É vagabundice uma mulher transar na primeira noite – assim como é viadagem o homem recusar o sexo no primeiro encontro. É vadiagem uma mulher pedir a um parceiro sexual que ele faça com ela qualquer coisa que fuja do script me-pega-de-jeito-me-joga-na-cama-e-me-faz-ver-estrelas – só palavras limpinhas e atos que não choquem a sociedade, please.
E enquanto o pensamento predominante continuar esse, sinto muito, mas a gente vai continuar sem gozar. Se toda expressão da sexualidade feminina que não seja usar um decote a serviço da felicidade masculina é considerada errada e digna de punição com cinquenta chibatadas, que cabeça a gente tem pra gozar? Se a gente tem que se preocupar primeiro com o que ele vai achar da nossa depilação, da nossa calcinha, da nossa barriga, dos nossos peitos, das nossas celulites e das nossas estrias, que cabeça a gente tem pra gozar? Porque gozar, ó, tá na cabeça. Antes de ser uma atividade sexual, é uma atividade criativa. De imaginação. De treino – do corpo e da mente. É um negocinho gostoso que leva muito tempo e muita maturidade para ser sentido e entendido sem autorrepressão.
Por isso, você, homem que julga a sexualidade de toda mulher que não seja a sua irmã, não reclame se a sua namorada não gozar com você. Você, mulher que chama a amiguinha da faculdade de vaca só porque ela aparenta ser mais bem resolvida sexualmente do que você, não se espante se nunca tiver um orgasmo. E você, querido ser humano que diz que luta para que a mulher goze, mas que afirma categoricamente que mulher que só consegue gozar por estimulação clitoriana ainda não saiu da adolescência, pense duas vezes. Ninguém aqui precisa de julgamento e de dedo apontado na cara. A gente precisa mesmo é estar em paz para gozar quando, como e se a gente quiser.
- Bruna Grotti (Entenda os Homens)

Fazer amor é broxante!!

Todos estão sentados? Então, por gentileza, sentem-se, pois o que eu tenho a dizer, com certeza, causará choques e irá contra tudo o que aprenderam com os contos de fada que leram na infância. Estão prontos? Aí vai: os sentimentos que alimentam o amor, muitas vezes, são os maiores responsáveis pela morte do desejo sexual.
Acham que eu fiquei louco? Peço que fiquem calmos e que me deixem explicar melhor: os elementos que nutrem o amor, como a proteção, a responsabilidade, a mutualidade, a reciprocidade, o respeito e o zelo, em muitos casos, são os grandes culpados pela asfixia do desejo sexual. E por que isso acontece? Porque o desejo, às vezes, de maneira imperceptível, emerge de sentimentos que são totalmente antagônicos aos queridinhos do amor. Quais são eles? Por mais que você não queira confessar, que não saiba, ou que tenha vergonha de assumir, o seu desejo sexual é alimentado, basicamente, pelo domínio, pelo desequilíbrio, pela agressividade, pelo poder, pelo ciúme, pela possessividade, pelo prejuízo moral e pela indecência. Em resumo: na cama, a maioria de nós fica com tesão por coisas que, fora dela, somos contra – ou dizemos ser.
Perceberam o paradoxo? É por isso que, em muitas relações, a diminuição do desejo sexual é proporcional ao crescimento do amor e de sentimentos que, com o passar do tempo, nos fazem encarar o parceiro como objeto a ser protegido, e não como objeto capaz de nos estimular sexualmente. Os sentimentos ternos e puritanos do amor crescem até que, de repente, de tanto espaço que ocupam em nossa mente, parecem incompatíveis com as necessárias impurezas – como a indecência e o prejuízo moral – que incitam o desejo humano. Com o tempo, é normal que a relação se torne um vínculo paternal/maternal que não combina, ao menos na cabeça dos envolvidos, com os elementos que afloram o tesão. Não é uma coisa racional, e por isso, por mais que estejamos munidos de vibradores e de aulas de pompoarismo, não é fácil manter, na mesma casa e convivendo em harmonia, os demônios que causam tesão e os anjinhos que geram suspiros delicados de amor.
De um lado o amor pede segurança, estabilidade, confiança, previsibilidade, perenidade e dependência, de outro, o desejo sexual clama por perigo, desequilíbrio, risco, novidade, indecência, mistério, adrenalina, imprevisibilidade, aventura, surpresas e por elementos desconhecidos. Ou seja: fodeu! Sendo mais claro: o romantismo, na cama, é um ótimo caminho para dar uma rasteira no tesão. E se quiser continuar a ter vontade de transar com quem você ama, ao menos entre quatro paredes, precisa aprender a mandar o “amorzinho” para a puta que o pariu e a permitir que o seu lado mais sujo venha à tona. Eu sei que ela enche o seu coraçãozinho de ternura e que, nas calçadas da vida, você a mantém longe dos carros, porém, na hora do sexo, esqueça os olhares meigos e aja de maneira capaz de fazê-la enxerga-lo como algo além do cara que zela pela saúde dela em dias chuvosos. Por mais que, no dia a dia, como forma de respeito, você a mantenha em posições que demonstrem igualdade entre vocês, na hora da foda, irmão, dê uma chance à desigualdade e ao desrespeito que, só no sexo, têm licença poética para acontecer. Pense nas posições sexuais e verá que, na maioria delas – ou em todas -, sempre existe alguém em posição de desigualdade e de submissão. Perceberam? A Igualdade e as demonstrações de respeito são coisas necessárias em diversas esferas da vida humana, mas na hora do “lepo lepo”, por favor, saiba se livrar delas.
Irmão, eu sei que você a ama e que ela é mãe dos seus filhos, porém, na cama, esqueça as demonstrações de cuidado, a voz fofinha e a sua veia paternal. Amigo, pelo bem da sua vida sexual, não use a hora do sexo para demonstrar amor, respeito e ternura. Nem as princesas da Disney ficam molhadas com pétalas de rosa caindo sobre a cama! Mesmo que você seja o último romântico, deixe para fazer declarações shakespearianas quando estiver com o pau fora dela. É sério!
Outro dia me perguntaram o motivo pelo qual eu não escrevo contos eróticos românticos, e, finalmente, sinto-me capaz de responder: eu não sinto vontade de fazer amor na cama, prefiro fazê-lo enquanto converso em uma mesa de restaurante e em bilhetes que eu costumo colar na geladeira dela. Na cama e quando eu estou nu, prefiro fazer aquilo que os filhos temem pegar os pais fazendo. Entende?
Eu respeito a opinião de quem sente vontade de gozar quando ouve o parceiro dizer “eu te amo”. Eu, porém, acho mais excitante quando elas me dão socos na cara e não agem como se eu fosse um filhote de labrador. Sabe o que eu penso a respeito de fazer amor no sentido sexual da coisa? Acho broxante. Mas essa é apenas a minha opinião! Se você curte, irmão, sinta-se livre para colocar uma música da Whitney Houston – de preferência “I Will Always Love You” -, e para, quando estiver dentro dela, ao invés de chama-la de “putinha” ou de “vadia”, chama-la de “coisa linda do meu coração” e, entre uma enfiada e outra, perguntar se ela está com frio. Só torça para ela não secar.
- Ricardo Coiro (Entenda os Homens)