quinta-feira, 26 de março de 2015

O melhor problema.

Seu amigo definiu nossa relação como doentia. Minha amiga definiu nós dois como problemáticos. Você nos define como algo que nunca deveria ter sido e foi muito mais do que esperava. E eu defino tudo isso como a parte mais desesperadora e mais sufocadamente feliz dos últimos anos. Você com certeza está longe de ser um príncipe encantado e ainda mais longe ainda de ser o homem da minha vida. Eu com certeza não sou o que você sonhava. Mas de semana em semana a gente vem se tornando aquele encontro com beijo desesperado que revela saudade. O abraço apertado depois do sexo, demonstrando cuidado. Aquele beijo na testa abrindo todo o carinho de um pelo outro. E o olho marejado na hora da despedida que mesmo sem palavras diz: fica. De semana em semana, estamos aprendendo juntos a lidar com o problema que somos, não da melhor maneira na maior parte do tempo, mas a gente sempre volta depois dos problemas. Você sempre se embebeda e me liga desesperado quando eu sumo. E eu te ligo em pânico cada vez que acho que vou te perder. Você surta quando me vê com outro cara por perto e eu quero te matar quando aparece outra mulher. Ambos riem do que estamos nos tornando e creio que como eu, você também morre de medo de se deixar ser amado. Entre gritos, berros, socos na parede.. Sumiços repentinos, milhares de doses de whisky tomadas, lágrimas e milhões de "dessa vez acabou" proferidos com raiva da boca de ambos, é você que torna o meu mundo mais equilibrado por incrível que pareça, quando aparece sorrindo na noite de sexta feira e diz que sentiu minha falta. É você que tem o abraço mais quente e aconchegante em todas as noites que passamos juntos. Você que retira a presença do passado e se impõe no meu presente. Você que me faz ser moléca ou não, o que eu posso ser e quero ser. Que me ama, mesmo sem dizer, exatamente da maneira largada que eu tenho. E sou eu que seria capaz de agarrar o mundo inteiro pra te proteger, capaz de entrar na frente do que fosse pra te manter seguro. Eu que mesmo sem dizer, amo olhar você dormir e morro de medo de um dia os sumiços repentinos serem mais do que atualmente são. Eu que tolero seus vícios péssimos e me mantenho do seu lado, mesmo sabendo que naquele momento talvez você nem entenda quem eu sou. Eu sou pra você o que você é pra mim. E mesmo sem distinção, sem nome, nem regras ou clichês, mesmo com todos a nossa volta apavorados com isso, eu não te deixaria sozinho por nada no mundo, porque enquanto os outros veem um ser descontrolado, drogado e maluco, eu vejo o homem pelo qual eu senti uma imensidão descontrolada depois de um abraço forte. Vejo e sempre vou ver o cara carinhoso que dorme entrelaçado em mim com medo de acordar e não me ver. Vejo e sempre vou ver quem me trouxe a vida de novo, mesmo tornando ela o pedaço mais confuso dos últimos tempos. E se isso for dependência, doença, problema ou for acabar em tragédia, eu só sei que amo correr esse risco do seu lado e te ver sorrir faz tudo isso sumir.

Mais um ano...

É seu aniversário amanhã, impossível não lembrar disso mesmo depois de tanto tempo. Admito que pensei em ligar, em mandar qualquer tipo de mensagem ou sinal de fumaça pra dizer que pensei em você. E no mesmo momento em que quis muito ouvir a sua voz, mesmo que ela dissesse o quanto continua feliz com a sua atual mulher... Eu quis manter distância e te deixar seguir seu caminho pra longe de mim. Fiz isso porque o amor que eu sinto ainda por você é tão puro que não consegue te causar qualquer tipo de mal estar. Eu só quero uma coisa de você. Que seja feliz. Que se torne a pessoa mais feliz desse mundo, que abra o seu sorriso até sentir doer o rosto e gargalhe de felicidade todos os dias. Que se alegre ao levantar da cama e tenha dias que valham a pena. E enxergue um dia nublado, como se fosse um dia de céu plenamente azul. Que tenha calma no peito, na vida, nos sonhos e no trabalho. Que chegue em casa inteiro, mesmo depois da operação mais longa. Quero que conquiste todos os espaços que deseja, os sonhos que sonha, os locais que almeja e a plena certeza de ter feito tudo o que sempre quis na sua vida. Que tenha todos os dias uma saúde de super herói, quase se tornando invencível. Que envelheça com essa mesma saúde e com aquele sorriso escancarado que eu tanto amo. E acima disso tudo, que tenha amor na vida e que isso o torne todos os dias, ainda mais feliz do que já se pode ser. Eu hoje sei que nunca, nunca, vou deixar te amar e te querer bem. Afinal de contas, te amo desde o primeiro momento em que bati meus olhos em você. Mas se não é feliz, como quero que seja, comigo perto... Eu me afasto, te desejando e enviando amor de todo o meu ser, todos os dias. Me afasto te dizendo de longe o quanto eu sou apaixonada por você. Me afasto porque sei que não sou o que você quer pra sua vida, mas tendo certeza de tudo o que você é pra mim... Me afasto sussurrando bem baixinho pra que só os céus me ouçam e te levem os meus desejos em forma de sorrisos... Feliz aniversário... Sorria por favor e por favor seja feliz.

sábado, 21 de março de 2015

O que ficou...

Inconscientemente te mantenho por perto com coisas banais como dormir ainda do lado esquerdo por saber que o lado direito era o seu preferido, ou como arrumar a cama de manhã dividindo os milhões de travesseiros que continuo tendo "pra nós dois". Vivo nessa inconstante guerra entre o que ficou e o que você levou quando me deixou. Você não está mais presente no meus dias, não fisicamente e a muito tempo. Mas não pode impedir mesmo que tente, que eu te guarde comigo. Do meu jeito torto e atrapalhado, mantenho lembranças vivas nos dias monótonos. Talvez pra ser mais feliz, sozinha. Relembro vividamente do seu sorriso seguido daquela gargalhada que ainda me tira sorrisos, recordo o conforto do seu peito quando nenhum travesseiro faz o efeito devido e restauro o cheiro da sua pele depois do banho pra que eu me sinta em casa em qualquer residência que esteja. O fato é que nada supera a falta que você me faz e que minha vida mesmo com outros homens não chega nem perto do que era com você. Eu sei, eu sei. Naquela época você somente se recorda da pessoa que caiu em depressão e desistiu do mundo. Mas sabe do que eu lembro? Eu lembro de pensar nos detalhes pra te fazer feliz, mesmo quando eu me sentia insuficiente. Lembro de te amar da maneira mais grandiosa que um ser humano consegue amar. Lembro de deitar no seu peito e torcer pra que o mundo acabasse daquela maneira. E mesmo que você não acredite, sim, eu ignoro os pontos ruins - que foram muitos - e isso porque nenhum ponto ruim consegue ser maior do que você sorrindo quando chegava em casa. Mesmo depois de tantos meses que se passaram, eu ainda queria ter olhado pra você naquele ultimo dia e ter pedido que não desistisse de mim. Eu jamais desisti de você e do meu jeito ogro de ser, não vou desistir até suspirar pela última vez. 

domingo, 15 de março de 2015

Eu não posso fazer você me amar.

Mesmo que eu pisque os olhos na velocidade exata que me indicam as revistas e me revire de cabeça pra baixo pra tentar caber no seu avesso, você não nota. A gente troca duas ou três palavras, eu puxo assunto, tento levar adiante o papo manjado sobre cães só pra falar que eu tenho um labrador grandão e bonito que você adoraria conhecer. Você até responde, liga duas ou três vezes, bate um papo legal do cinema e me beija, depois você vai embora e só muda de nome, cor de cabelo, o jeito de virar os olhos, só muda mesmo personagem quando eu queria que mudasse o roteiro todo da peça. É engraçado isso porque eu me esforço. Me encaixo ali direitinho no que parece ser seu dossiê e ainda aplico umas técnicas elaboradas que aprendi uma vez num programa tailandês que serve pra trazer um amor em menos de três dias. Mais eficiente que mandinga e eu nem preciso aprender a jogar búzios, é tudo na força de pensamento, tá dizendo a menina com um sotaque engraçado que eu encontrei no Leblon dia desses. Tento me encaixar em você já que a nossa compatibilidade no last.fm é alta, a gente tem uns 105 amigos em comum no Facebook e eu até gosto da mesma cor que você. Fico ali tentando entrar, não sei se você veste P ou M, mas eu consigo ser grande ou pequena o suficiente pra caber no teu tamanho, viu? E você não é só um, nem dois, três seria demais, mas a conta já passou disso. Você é todo cara que me olhou nos olhos, pediu desculpa, disse que não ia funcionar e me rejeitou. É todo mundo que já embrulhou umas tristezas no pacote e deixou lá no quarto pra eu levantar com a sensação de que o mundo tava desabando e que eu tava fazendo tudo errado outra vez. Ia passar, sempre passa, bola pra frente, conheci alguém, só mais um, mas vai passar também. O que não passa nunca é a culpa que eu prego na sala como se fosse um Picasso pra enfeitar minhas lembranças doloridas. Tava vendo no Discovery que a memória afetiva (quase) nunca falha. Ela registra tudo: de sabores a odores adocicados, de primeira música ao perfume que usava pra sair à noite, da mania de enxugar as mãos duas vezes ao descaso com que mexia no cabelo. Ela associa ações e situações a pessoas e isso faz com que algumas coisas nos lembrem bem de alguém justamente por termos vivido algo marcante com aquela pessoa. É isso que a gente chama de recordação, geralmente. Nesse sentido – e falo de forma leiga aqui – a lógica seria clara: a gente não guardaria recordação nenhuma de quem nunca passou pela nossa vida. Mas não é assim que acontece, né? Além de guardar recordações, tirar da geladeira pro microondas  e viver de emoção requentada, eu também me alimento de culpa. Por que eu não consegui te fazer ficar, mesmo nos moldes, mesmo no tamanho, mesmo que se você quisesse era só avisar que eu tentava me trocar na loja. Me culpo porque você não me achou interessante, não me achou bonita, talvez eu estivesse um pouco gorda, eu teria que te agradar em mais o quê? A culpa é minha por não ser seu tipo ou por ser e mesmo assim você não me querer, o que é ainda pior. Pior porque só prova que eu fiz algo de errado pra não atender as tuas expectativas, que eu te frustrei no meio do caminho, que eu não segui a receita pra te conquistar direitinho, deveria ter começado na segunda-feira. Culpa minha, óbvio, e bem feito que eu me sinta destruída sempre que você vai embora e, Doutor, e se eu não pudesse fazer nada? Porque tem umas coisas que fogem do nosso controle e talvez essa seja uma delas. Talvez não importasse o quanto eu me dedicasse, o quanto eu quisesse casar com teus gostos, o quanto eu queria que desse aquele match esperto na vida real, porque isso não depende de mim. Na verdade, pensando melhor, nada depende exclusivamente da gente. A gente pode tentar oferecer pro outro o nosso mundo e torcer pra que ele queira ficar se a gente se encantar pelo dele também. Não tem manual, dieta de segunda-feira, programa tailandês ou mandinga que traga amor. Essas coisas são tão imprevisíveis quanto a conta do meu cartão de crédito no fim do mês. Mas o processo normal é sentir culpa por não ter sido o amor de alguém, por não ter inspirado o amor de alguém, e isso se torna um ciclo de auto-negação tão grande que nem cabe nesse texto. Culpa vai sendo mastigada, embolora no estômago, se torna martírio e quando for ver, a gente tá por aí achando que não é bom o suficiente pra ninguém só porque entendeu tudo errado nessa coisa de paixão, pessoas, expectativas e sentimentos. Amor não é ciência exata que a gente garante de olhos fechados que 2 + 2 = 4, não tem como “caber” em alguém, não tem como seguir todas as regras pra garantir o sucesso da rota. Isso só gera frustração. Não foi minha culpa, nem culpa do meu corpo, nem culpa da minha personalidade se o menino da quinta série não quis me dar a mão no recreio. Se o carinha mais velho do colegial preferia ruivas e meu cabelo tingido não mudou nada. Se o alemão não gostava muito de sueca e eu só sabia jogar isso. Então, pensando cá com as minhas dores, cheguei à conclusão de que eu não podia fazer nada e não tinha nada a ser feito. Eu não podia mesmo ter feito você me amar. E agora não me parece tão ruim assim ter que conviver com isso.
- Daniel Bovolento