Meu coração pertence a outro e o coração dele não pertence a ninguém.
Eu me perco na minha rotina atribulada e ele nas noitadas alucinantes que tem.
Minha vida tem uma rotina pré estipulada, ele acorda a hora que bem entende.
Eu já me machuquei demais e ele já foi destruído por um amor que o fez não ser forte como é.
Ele admira as minhas cicatrizes, eu me encanto com as feridas dele.
Temos pouco em comum.
Não nos damos bem na maior parte do tempo.
Ele me chama de dama, eu admito que ele faz o estilo vagabundo.
Eu gosto da cara séria que ele tem, do mistério dos olhos escuros e das tatuagens que tornam ele ainda mais atraente.
Ele gosta de enrolar os dedos no meu cabelo, sorri quando eu abro o sorriso e diz amar o cheiro do meu perfume.
Ele não me faz rir o tempo todo, mas também não me arranca lágrimas.
Eu não o amo, mas também não deixo de me entregar cem por cento quando estamos juntos.
Ele é parecido com a noite e diz que eu sou parecida com o sol.
Somos opostos.
Nossos corações só batem juntos no ritmo da batida pesada do rap.
Eu me encanto com as roupas cada dia mais largas dele.
Ele prefere que eu só use uma camiseta em casa.
Eu alucino com o tom de voz sempre certo que ele usa comigo.
Ele gosta de me ouvir falar.
Eu me sinto protegida em baixo daquele olhar que alerta perigo a milhas de distância.
Ele se encantou pelo jeito que eu o olho fixamente.
Eu gosto de batons escuros.
Ele borra todos eles sem dó.
Ele tem mais de dois metros de altura.
Eu sou pequena.
Ele tem a cor da pele negra, assim como o passado dele.
Eu sou mais branca que uma página nova de sulfite.
Nós dois tínhamos tudo para sermos estranhos.
Ele gosta de Marlboro Vermelho, eu dos charutos cubanos.
Ele prefere conhaque, eu whisky.
Temos uma semelhança, gostamos de tudo que é forte e intenso.
Não nos amamos.
Ele sorri maliciosamente sempre que me vê.
Eu sempre digo que é a última vez.
Ele me joga na cama e faz como se não houvesse o dia seguinte.
Eu me entrego como se realmente não houvesse.
Ele está longe de ser bom e acredita que o inferno é a eternidade para ele.
Eu ainda não sei se sou boa, mas tenho fé no perdão.
Ele diz que a alma dele está condenada.
Eu só me sinto viva com ele perto.
Ele não entende porque eu não vou embora.
Eu espero que ele não vá.
Brigamos muito.
Ele sempre conserta as coisas pesando a mão, como eu gosto.
Eu nunca deixo que a briga seja a última lembrança.
Ele me acha atraente.
Eu sempre vejo o corpo dele como uma obra esculpida por um artesão.
Ele me pega pela cintura.
Eu digo "chega".
Ele me morde a nuca e pergunta "chega?"
Eu perco a linha mais uma vez.
Ele gargalha quando terminamos.
Eu olho para ele e digo que já estou de saída.
Ele me puxa para o corpo dele e recomeça tudo do zero.
Nenhum de nós dois tem limite.
Eu me encanto com a maldade aparente dele.
Ele se apaixona pela luz que eu tenho dentro de mim.
Ele é errado.
Eu sou errada.
E é ai que está o problema.
Eu não consigo ficar longe, ele não quer ficar longe.
E volto a dizer, a gente não se ama, mas temos algo muito mais doentio e forte que isso.