quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Ultimamente tenho colocado aquele moletom velho duas vezes meu número que nunca te deixei conhecer e saio andando nas ruas, não costumo ir muito longe. Ando geralmente até a praça que tem aqui perto de casa e sento naquele velho banco de madeira tentando me livrar das nossas lembranças.

Por algumas horas eu sou só alguém observando o mundo e sinto o mundo me observando de volta. Penso no passado, no agora e já não quero pensar no futuro. Só fico ali filtrando sentimentos e tentando achar o mínimo equilíbrio para que as coisas não desabem de vez.

Acho que estou enlouquecendo sabia?

Por semanas tenho chego em casa depois de dias bons, cansativos ou normais e ao abrir a porta do meu quarto, você está ali. Nitidamente. Posso ouvir sua voz, te ver se mexer e sorrir olhando na minha direção. Claro que eu sei que isso não passa de uma visão. Mas, é você. E por alguns instantes o mundo a minha volta para de girar. Eu fico ali parada na soleira da porta te olhando e invocando todos os santos conhecidos para que dessa vez não seja somente uma visão.

Com os olhos já marejados e a boca sem esboçar sorrisos, eu entro no quarto largando a bolsa na cama e fecho apertado os olhos. Talvez pedindo socorro em silêncio. Talvez gritando sem emitir sons. E é nesse momento que tudo acontece, relembro sua última respiração perto e escuto novamente uma oração deixada no tempo. Não a refaço, mas a escuto em pleno som.

É uma oração bonita e representa aquilo que marcou um dos momentos mais lindos em que estive com você. Invocamos a vida, juntos. Por minutos, você era só o cara com quem eu sentia meu coração voltar a pedir vida e eu era só a pessoa que já tinha medo demais, mas confiava em você. Éramos dois seres errados que juntos tinham alguma força. E mesmo que você tenha se tornado o que se tornou me arrancando toda a vida que me devolveu, esse momento não muda. O momento em que eu tive tudo, sem ter nada.

E pra ser sincera, tudo isso ainda é você.