segunda-feira, 30 de novembro de 2015
05.03
Depois de quase três meses nesse vai e volta, acho que ambos já estávamos cansados desse cabo de guerra aonde, no fim, nenhum de nós dois iria vencer. O prêmio para quem largasse primeiro a corda era dar início a tão conhecida fossa de saudade que já conhecíamos bem. Eu e ele éramos assim. Nunca tivemos de fato um começo, tão quanto um fim. Nos conhecemos ainda na adolescência, há longos dezessete anos atrás. Passamos por mais de uma década quase sem contato. Raros encontros nos mantinham vivos dentro um do outro. Ele tinha sido e sempre seria um dos meus melhores amigos e com certeza a pessoa em quem eu sempre pensaria com tremendo carinho. Minha vida foi em frente, me levando a lugares que nem nos meus sonhos eu teria conhecido. A vida dele também, do seu jeito, o levou ao topo e ao fundo de um buraco complicado de se entender vendo de fora. No começo desse ano nos reencontramos, assim do nada. No meio de uma madrugada estranha, acabamos deixando a impulsividade falar mais alto e adormecemos juntos. Mal sabia eu que ele já não era a pessoa que sempre me protegeu sem pensar nas consequências e mal sabia ele que eu já não era mais a menina frágil que se escondia atrás dele a qualquer ameaça de perigo. Os anos nos mudaram, muito. Passamos assim, sem saber o que éramos afinal, bons meses de vai e vem. Até que eu encontrei outra pessoa e por achar ter encontrado grande coisa, o deixei seguir, de novo. Mas, como dizem, o destino quando quer, não se dá por satisfeito com o "quase" escrito em neón que havíamos pintado um na testa do outro. Por fim, acabei sozinha, de novo. E o reencontrei, de novo. Essa mania de disco riscado, explica muito sobre nós dois. Ele dizia que eu não sabia por fim nas coisas que se iniciavam na minha vida, principalmente as sentimentais. E ele estava certo, mas graças a minha insistência de não colocar pontos finais que findem as histórias, eu me dou a liberdade de reviver o que outros, nem se quer pensariam em ter de novo. Pra mim quando há algo forte, é assim. Pode ser que acabe do jeito mais desastroso e dolorido possível, se um dia voltar, que volte. E que se coloque enfim um ponto final, ou uma bela vírgula. Nós dois só tivemos a chance de sorrir um para o outro novamente porque pra mim, ver ele voltando, era algo que devia acontecer. E também porque, graças ao destino, ele não havia seguido em frente de vez. Assim em meados de agosto pudemos abraçar um ao outro. E desde então, estamos assim... Indo e voltando. Não nos limitamos e até deixamos outras pessoas aparecerem. Eu conheci alguns caras. Ele dormiu com algumas. E sabíamos disso. Sabíamos porque enquanto estávamos juntos, falávamos sobre o quanto ninguém conseguia ser o que éramos, mesmo que não soubéssemos o que isso afinal queria dizer. Ele se abriu comigo, falando sobre o quanto era infinitamente impossível achar quem amasse o caos que ele era. Eu me abri, contando sobre o quanto estava sendo complicado desde julho. Eu entendia ele, ele me entendia. Éramos mais do que uma transa, éramos amigos e bons amigos pra ser sincera. O que tornava óbvio o quanto ele me faria falta se eu largasse a corda antes. Mas, também era aparente o desgaste, não só meu, mas dele também. Estávamos esgotados das brigas sem sentido, dos dias ruins e das vezes em que um machucou o outro sem pensar direito. Chegamos no ponto em que era necessário decidir. Ou seríamos algo concreto, ou seguiríamos cada um para o seu canto, de novo. Era horrível pensar em não o ver mais, assim como era angustiante a ideia de ficar, sabendo que mais tarde ou mais cedo, iríamos sim, nos ferir. E dessa vez o dano seria bem mais sério do que uma briga, ou uma simples discussão. Perdida nesses pensamentos me peguei sentada do lado dele olhando para o chão, enquanto ele de braços cruzados olhava o céu nublado, parecendo pedir ajuda de alguém lá em cima. Eu já não tinha argumentos para nos manter bem e também talvez me faltasse vontade de continuar assim. Pensando nisso o olhei sério e perguntei o que seria de nós dois. Ele suspirando fundo se aproximou colocando a mão na minha coxa e balançando negativamente a cabeça. Eu segurei o rosto dele, que já estava amparado no meu ombro esquerdo e disse: vou sentir sua falta grandão. O que imediatamente me entristeceu. E ele com um olhar confuso, um tanto quanto triste, me disse com voz rouca que as coisas não precisavam ser assim. Pela primeira vez em um bom tempo, eu pude perceber que com nós dois vai ser sempre a incerteza de um amor que pode ser imenso, atordoado pela incerteza do que o tempo nos fará caso ambos permitissem ser sim, só um do outro e nada mais. Eu estava cansada, ele também. Mas pelo menos por essa noite, decidimos antes de amanhecer que por enquanto, entre a dor de ir e o cansaço de ficar, preferimos continuar cansados juntos do que em pedaços separados. Mas você também não acha isso o suficiente, acha?