terça-feira, 17 de novembro de 2015

Sempre que digo que sinto falta de casa, penso em você.
Não mais daquele jeito amargo que era assim que nos separamos.
Nem do jeito que doía insuportavelmente nos meses que se passaram após o nosso fim.
Hoje quando digo que sinto falta de casa, digo com uma certa nostalgia boa.
E digo nostalgia porque é algo que eu sei, aqui dentro, que ao contrário da saudade, não pode ser simplesmente superado.
A saudade que eu senti de você no primeiro ano, quase me matou. E eventualmente passou.
Mas essa nostalgia de me sentir em casa, é algo maior que tudo. Maior que os nossos erros, maior que as brigas e muito mais do que tudo aquilo que nos feriu. É também maior que o fim.
Contigo eu me sentia bem, onde quer que fosse.
Você era minha casa e talvez por isso não fizesse diferença o local que estávamos, quando você me abraçava para dormir.
Dois anos já se passaram desde que notamos que havia acabado. Você antes de mim. Como sempre.
E isso é tempo pra caramba!
Concorda?
É tempo o suficiente para esquecermos um do outro.
Tempo para aprender que... Talvez, tenha sido melhor.
E concordo que tenha sido.
Mas sabe, tem dias em que eu ainda lembro de coisas banais que passamos juntos como o desafio pra pintar um apartamento inteiro com direito a declaração na parede da sala, ou daquela nossa viagem pra praia em que voltamos pra casa na areia no meio do escuro, e isso me faz sorrir.
Talvez aquela sensação de ter encontrado o "amor da minha vida" nunca tenha de fato ido embora, mesmo que tenhamos seguido caminhos completamente opostos.
Porque eu lembro de ter te dito um dia que mesmo que fossemos para lado opostos, iríamos ainda assim ser tudo o que fomos, mesmo que já não fossemos nada.
Você já amou outras mulheres, eu já me arrependi de amar outro...
Você casou de novo, eu já namorei alguns.
Você se tornou ainda mais um homem de quem eu terei sempre orgulho e eu continuei sendo eu mesma. Aquela que tem azar no amor, que gosta de whisky, de samba e sempre volta a fumar.
Dois anos depois e você continua sendo a exceção a regra da minha vida.
E mesmo que meu amor por você tenha se transformado em algo tão lindo, não podia deixar de dizer que pensei em você.
Você hoje pra mim é o que de melhor me aconteceu. E excluindo a parte ruim, com certeza sempre vai ser o meu grande amor.
Hoje quando me peguei sorrindo pensando em como tive sorte quando cruzei teu caminho, notei que você me ensinou a ver o copo meio cheio na vida. Notei que por você ter existido, hoje o resto ficou fácil de superar. E eu ando tão feliz sabe? Tão imensamente em paz, que você, mesmo dois anos depois, continua sendo boa parte do que me faz bem.
E exatamente por esse motivo, queria te dizer que espero sim que a vida um dia nos coloque frente a frente novamente para que eu possa te dar um abraço apertado e dizer que ainda somos o que já não podemos ser, que você ainda é o que já não era e que ao contrario da saudade, por você eu cultivei uma nostalgia que me faz sorrir quando penso que sentir falta de casa, é sim sentir de um jeito ou outro, falta de você, mesmo depois de tanto tempo.

27.03.1988