sábado, 7 de novembro de 2015

Me desculpa

Desculpa pelos sustos dados em hiatos não planejados de silêncio. Te fiz esperar mas do que deveria, eu sei, mas é que existe um medo enorme que me consome quando vejo as coisas caminhando pra um terreno que eu desconheço. Não gosto de pisar em terrar desconhecidas, nunca escolhi os desbravadores nos jogos de vídeo game, sou mais do tipo que analisa todo o campo antes de bolar a tática. Sei que isso não me impede de pisar em campos minados, mas finjo que sim, finjo que desse meu jeito as coisas estão sob controle. Nunca estão. Se estivessem, os estilhaços das bombas anteriores não teriam voado diretamente em você. 

Você persiste, já não sei se é pelo desafio ou pelos motivos que você me diz sem rodeios: você gostou de mim. Então por que não acredito? Dizem que leva tempo e levaria mais tempo ainda pra você gostar de alguém feito eu, pra entender esses receios cheios de histórias de guerra que eu carrego no peito. Vivo em trincheiras explosivas, mas você avança. Desculpa por isso, mas vou precisar te ferir pra não chegar tão perto, pra não perceber que eu já tô deixando o escudo de lado.

Resisto bravamente, encaro a linha de frente do combate. Qualquer coisa pra não ter que encarar você. Mas.

Tem algo ali. Alguma coisa que eu não esperava. Alguma coisa que não estudou a guerra, alguma coisa que tenta me explicar que eu não preciso fugir. Que já fugi demais, e talvez por isso seja tão difícil me convencer a ficar. Porque acho que todo mundo que chega perto é combatente, encaro toda e qualquer aproximação como inimigo. É que eu já me machuquei tanto que exijo cautela, sou quase um sentinela sentimental. Me desculpa por isso também. 

O problema é que eu sinto cada vez mais vontade de cair pra dentro de você. Enxergo nos teus olhos alguma coisa divina, alguma bênção que vai pôr fim ao meu martírio, algum decreto de liberdade pra deixar os escudos pra lá e largar as armas. Cansei de ladrar, amor. E quando você vem é só paz que eu sinto, sinto as marcas desaparecendo, sinto como se pudesse sentir tudo de novo outra vez. Sinto que pode ser dessa vez. 

Desculpa pelos sustos dados em hiatos não planejados de silêncio. É que eu nunca sei o que dizer diante de um milagre. Mas te digo, repito largando as armas de lado, que pode ter demorado tanto, posso ter resistido tanto, mas que agora não tem mais desculpa. Resisto bravamente, encaro a linha de frente do combate. Qualquer coisa pra poder encarar você por uma vida inteira. 

- Daniel Bovolento.