quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Ao meu ex, eterno amor

Fiquei me perguntando hoje como seria ter nas mãos o poder de reescrever todos os passos que dei até hoje. Me perguntei sobre minha relação com meu pai e se teria feito diferença ter tomado a decisão que ele me culpa até hoje por não ter tomado. Me perguntei sobre as pessoas que passaram por mim e se essas relações teriam sido diferentes se eu pudesse contar a todos o que realmente acontecia enquanto eu sorria abertamente. Revi imagens de pessoas que estavam apagadas na minha memória, inclusive os homens maravilhosos que eu conheci e dispensei por não estar interessada em nada sério. Foi então que entre milhares de coisas que passaram por mim, cheguei ao dia que nos conhecemos naquela balada de fim de mundo. Eu bêbada, você pior. Eu ficando com um amigo seu, você ali perdido. Eu te olhando desde que cheguei, você notando minha presença somente quando me viu de perto. E se posso falar isso agora, aquele dia foi mágico. Eu sabia que tinha encontrado o amor da minha vida, bem ali no meio do nada. Eu sabia e nem se quer entendi. Tantas lembranças voltaram seguindo esse dia, inclusive aquele em que te dei um escapulário de presente. Estávamos perto do natal e me lembro desse dia, assim como lembro nesse momento de todos os dias em que tive o seu sorriso como guia, lembro perfeitamente. Como faltavam apenas poucos dias para o natal, as lojas estavam lotadas e eu não sabia o que te dar. Vi um escapulário e pensei que de um jeito ou outro, te dando ele, eu poderia sempre cuidar de você, mesmo depois que você fosse embora. E isso hoje me atormenta, eu já sabia que perderia você. Só não interpretei bem esse medo quando ainda estava em tempo de não te amar, como te amei. No dia que você apareceu, usava uma camisa pólo, não me recordo bem a cor, mas acho que era rosa. Eu não lembro o que estava vestindo, mas lembro perfeitamente de sentir meu coração saltar dentro do peito umas quinhentas vezes enquanto olhava o seu rosto ao abrir o pacote que guardava aquela corrente com valor espiritual para mim. Também uma carta. A primeira. Nem se quer lembro o que eu te disse lá, mas lembro sim dos teus olhos brilhando e do sorriso imenso que você abriu me dizendo que sempre quis um escapulário. Nosso destino estava bem incerto até aquele segundo e o engraçado era que eu simplesmente não me importava. Cada segundo do teu lado, só fazia crescer a certeza de que eu já havia encontrado o que pessoas passam a vida inteira para achar. E soube mais ainda quando fui cuidar de você depois da extração dos sisos. Eram coisas pequenas que me faziam te amar de um jeito absurdo. Então os meses começaram a passar, eu era incapaz de desgrudar de você. Incapaz de me ver sem o teu sorriso. Por isso acabei escrevendo com batom no espelho, dormindo agarrada a você noite após noite. A gente era um casal feliz, não sei se você se lembra dessa parte. Eu contava as horas pra te ver chegando em casa. E você cada vez que chegava me pegava nos braços como quem nunca queria ter saído dali. Houve um dia em que eu tive pesadelos horríveis e você precisava ir trabalhar, lembra como você exitou em sair por se preocupar comigo sozinha? Eu lembro. Lembro e me pergunto como isso virou o desinteresse por dormir na mesma cama, mês após mês. E lembro também do dia em que depois de meia garrafa de vinho, você deitou do meu lado e sorrindo disse que me amava pela primeira vez. A gente não deveria ter deixado de dizer isso! Porque naquela primeira vez eu sorri de uma forma que nunca havia sorrido antes, mas tive medo, conseguindo te dizer somente no dia seguinte enquanto cozinhávamos que eu tinha ouvido e que também sentia o mesmo. Você sorriu e me fez questionar como havia um ser humano tão perfeito na face da terra. Com o passar do tempo, decidimos morar juntos. Grande passo, mas pequeno pra tanto sentimento. E pouco depois, eu cometi o erro que nos afastou. Te aproximei do passado que eu lutei pra manter fora da minha vida. As brigas começaram, brigas piores aconteceram... E sozinha eu me afundei. Me apaguei por completo. Nem se quer fazia outra coisa da vida, além de ser uma sombra. Quer saber se me arrependo depois de tanto tempo? Sim! Me arrependo de não ter explicado que a minha tristeza não tinha a ver com você e que eu precisava de ajuda. Me arrependo de ter brigado com você no dia em que você me trouxe aquela rosa com o cartão que eu nunca esqueci. Me arrependo de não ter pintado todas as paredes do apartamento pra te mostrar, assim como você me mostrou, que valia a pena lutar mais um pouco. Me arrependo de ter me perdido de mim e consequentemente me perdido de você. Me arrependo de não ter te deixado ir depois que soube da traição, me arrependo de ter insistido e desgastado qualquer micro chance que havia de futuramente te ver me olhando com saudade. Me arrependo de ter me tornado um pesadelo desses bem feios, do qual você acordou faz tempo. Me arrependo de ter destruído a gente a ponto de te fazer procurar outra mulher. E digo isso de verdade, porque eu nunca mais amei ninguém da forma como eu te amei. Eu me arrependo de não ter conseguido te mostrar, que mesmo em meio a um mar de problemas, eu precisava que você tivesse lutado, porque eu teria lutado junto. Teria procurado ajuda, teria feito o que fosse para ser melhor se isso não me fizesse te perder, como perdi. Te ver sair da minha vida e posteriormente se tornado indiferente, me doeu bastante. Hoje já se passaram longos anos, eu já namorei outras pessoas, recentemente até amei alguém e o tempo se encarregou de nos fazer ir por caminhos completamente opostos. Nos perdemos por completo, de um jeito talvez sem volta e raramente eu lembro de você. Mas preciso te dizer, já que hoje lembrei... Você foi o amor da minha vida, de cabo a rabo. Foi sem dúvida alguma a pessoa que eu mais quis bem na vida. Você foi minha casa. Minha família. Foi literalmente um pedaço meu. E mesmo que o tempo tenha passado, a gente nem saiba mais um do outro, eu queria hoje ter a chance de te falar que eu sei, assim como sabia quando te conheci, que passe o tempo que passar, aconteça o que acontecer e eu ame quem quer que seja, nada, nem ninguém vai conseguir ser o que você foi. Já aceitei que encontrei o meu pedaço da laranja e que vim nessa vida sendo um limão. Ou melhor dizendo, te encontrei, mas não fui feita pra dar certo com você. E mesmo assim, tenha a certeza de que em trinta ou cinquenta anos, solteira ou com filhos, se você bater a minha porta eu vou abrir com o sorriso mais largo que eu tiver e vou te abraçar pra te dizer mais uma vez, nem que seja a última, que você sempre vai ser o amor da minha vida. E por isso, hoje e sempre, eu só rezo pra que Deus te faça o homem mais feliz do universo.

27.03.88