quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Hoje quando abri os olhos pela manhã notei que meu coração finalmente aos poucos está voltando a ser leve, ausente das tempestades que o surraram recentemente. Pode ser que seja só uma calmaria antes da próxima chuva, assim como pode ser que meus sonhos estejam tranquilos e resguardados da dor. Ainda não sei dizer. Suponho que os dias de sol e céu azul tenham ajudado a relembrar da calma que a alma já não achava para sobreviver. Também, pudera. O último desastre natural desenfreou um sofrimento que se aparentava infindável. Por meses, não houveram abrigos onde me esconder, o que me obrigou a expor as feridas ao vento. Tudo doeu demais e foi sentido ao extremo. Beirei a insanidade absoluta, de tanta dor repreendida no peito. Sem controle algum, sem pedidos de socorro ou portos seguros onde ancorar os barcos, me deixei seguir a tormenta da maré. Por momentos, me convenci que a imersão completa nas águas geladas me faria afundar de vez. Sorte minha, me enganei. Estou desfalcada de proteção, sem cais de segurança e com mais machucados abertos que posso te explicar. Mas não se assuste. Me dê o tempo que preciso e vou te mostrar um lugar lindo onde posso te abrigar. Agora que o céu resolveu abrir, o sol aparecer e no lugar da gritaria invocando a dor, surgiu um silêncio de calmaria, posso te dizer que ainda sem certeza, sei que tudo está a ponto de ser ajeitado. Sei que dá medo. Já estive no seu lugar. Mas escuta meu amor, me dá sua mão. Eu não vou ter medo de te amar. Muito menos de te proteger. Por tanto tempo me deixei doer por tormentas causadas por pequenos furacões e nada disso foi justo. Não comigo. Porém não estou contestando o que já aconteceu. Passado felizmente, é somente algo que não me aflige, não me emociona e nem me transtorna. Não mais. Quem foi amado, causou destruição. E ao contrário do que pensam, eu posso sim reconstruir tudo isso. Tenho em mim essa péssima mania de acreditar que um coração repleto de amor funciona melhor do que um corpo inteiro cheio de dor. E estou te dizendo, pela dor eu já passei. Agora você pode aos poucos ser meu amor. Mas te peço paciência, ainda não me curei dos males que me atingiram. E ainda tenho choros pendentes, dores a terminar de sentir. Não quero que vejas o fim de uma dor e nem que sejas a mistura do amor com o que restou do passado. Então volto a te dizer, eu posso fazer isso. Posso te amar mais do que qualquer coisa que já conheci, porque em mim tenho um coração imenso onde você pode se abrigar por toda vida. Só deixe-me tirar o resto de lama e lixo que ainda percorre meu sangue. Sei que você acha que isso que sobrou ainda é amor ao causador das dores, mas te garanto que não. Muito tempo passou e só me sinto grata por ter perdido a tempo de sofrer pouco, ainda que este pouco tenha sido muito. Mas, não preocupes teu coração a toa. Ele foi ventania forte, mas passageira. E você não, você é como o sol que secou as lágrimas. É a luz que findou a escuridão que não parecia poder ser findada. És meu cais. E acima de tudo, é alguém por quem vale reorganizar o peito. Não temo o amor, tão pouco um possível sofrimento. Só quero fazer as coisas da maneira certa. E se o certo for limpar o montante de destruição que causaram aqui dentro pra te abrir em um lugar que valha a pena ficar, que seja. Eu estou calma, com uma tranquilidade quase irreconhecível e isso devo também a você. Seus olhos azuis e extremamente cheios de possíveis clichês me fizeram escalar para fora do inferno. Contigo, eu posso voltar a sorrir. E você sabe, dos sorrisos eu raramente abro mão. Por isso te digo mais uma vez, tenhas paciência para que possamos sentir a calmaria que se manifesta aos poucos, juntos. Não apresse minha cura e eu poderei te amar como você merece ser amado.